31 de maio de 2011

Parentes e advogados em acidentes aéreos


Já ouvi isso de mais de uma pessoa: sempre que um avião se acidenta, principalmente quando o número de mortos é muito grande, os primeiros a chegar ao local são os bombeiros e os advogados. Estes, representam corporações às vezes com ramificações internacionais, especializadas em conseguir grandes indenizações de empresas aéreas e fabricantes de aeronaves. É por isso que existem centenas de associações de parentes dos mortos no voo "A", "B", "C" e por aí vai. Por mais que o leitor procure, não vai encontrar associação alguma de mortos em acidentes de ônibus.
Orientados por advogados, os parentes dos mortos buscam os culpados pelo acidente. Já os peritos buscam as causas. Enquanto aos primeiros interessa principalmente que haja culpa porque a culpa gera dinheiro, aos segundos é urgente localizar as causas, pois elas impedem nova ocorrência igual ou parecida. Os interesses são muitas vezes opostos, irreconciliáveis, e peritos, empresas, fabricantes, mídia e até mesmo governos sofrem pressões das tais associações de vítimas, escudadas pelos advogados.
Isso vem acontecendo faz dois anos com o vôo 447 da Air France, esse que caiu no Oceano Atlântico num trajeto entre o Brasil e a França e é mostrado na foto. À associação dos parentes das vítimas não interessa uma conclusão final que aponte erro humano. Ou fatalidade. Não dá indenização boa. Interessa que a Air France ou a AirBus sejam as culpadas. Aí chove dinheiro.
Trata-se de uma anomalia que vem crescendo com os anos. O ideal seria se os meios de Comunicação ficassem à margem da contenda para não interferir nela. Simplesmente noticiando. Qualquer interferência prejudica, sobretudo quando feita em forma de pressão. E até mesmo programas jornalísticos bem intencionados podem torcer os fatos quando as conclusões finais ainda não foram apresentadas.
É o caso de uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, apresentado domingo, 29 de maio último. Em meio a entrevistas com especialistas e cenas de cabine de comando do AirBus A 330, além de representações, foi ao ar o depoimento de um médico que afirmava: pela violência do deslocamento vertical do avião, alguns ou muitos passageiros já chegaram mortos ao mar. Em termos gerais, está correto. Mas não se aplicava ao fato específico e isso passou desapercebido. No caso do vôo 447, as caixas pretas mostram diálogos entre os tripulantes até o choque da aeronave com o mar. O ambiente em todo o avião é único. Tanto em questão de oxigênio, quanto pressurização e outros. Se a perda de brutal de altitude não matou os tripulantes antes do choque, não mataria também os passageiros, a não ser os muito idosos, convalescentes de cirurgia ou com a resistência muito baixa. Não sabemos se havia esse tipo de pessoas a bordo. Nos demais, o efeito é muito parecido ao registrado na cabine de comando.
Por isso, peritos devem trabalhar sem pressões externas. E conclusões apressadas não acabam com as especulações. Ao contrário, geram muitas outras.

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