20 de setembro de 2011

"O Cruzeiro Imperial"


Alguns livros demoram a sair mas, quando são publicados, marcam. "O Cruzeiro Imperial", de James Bradley (Larouse, 352p., R$ 52,80) é uma obra que coloca um pouco de luz na história. Tendo como pano de fundo a viagem da missão enviada pelo presidente norte-americano Theodore Roosevelt à Ásia em 1905, ele explica ponto por ponto como os Estados Unidos, por intermédio de racismo, violência, guerra de conquista, imposição de valores e erros diplomáticos graves, criaram o caldo de cultura que, 36 anos depois, colocaria o país na II Guerra Mundial. E também raiz de quase todos os conflitos atuais na região.
A bordo do vapor Manchúria, uma delegação composta pelo secretário de Guerra William Howard Taft, senadores, deputados, jornalistas e o restante de uma grande vassalagem, seguiu para uma viagem de três meses a vários países. Como as visitas eram apenas desculpa e o objetivo real da missão, o estabelecimento de acordos secretos dos quais o Congresso dos EUA, sobretudo o Senado, não poderia tomar conhecimento, seguiu junto com todos a filha mais velha do presidente, Alice Lee Roosevelt, garota escandalosa para os padrões da época, linda até não poder mais e que atrairia os flashes dos jornalistas, deixando os reais objetivos da missão devidamente encobertos.
A leitura de "O Cruzeiro Imperial" é uma delícia. E o autor, norte-americano cujo pai, John, era um dos soldados que aparecem na célebre foto da fixação da bandeira dos Estados Unidos em Iwo Jima, viajou toda a rota para fazer o livro. Viajou e pesquisou, sobretudo as raízes racistas da filosofia norte-americana. Os Estados Unidos na época consideravam-se uma nação ariana, anglo-saxônica, com fundamentos teutônicos e destinada a tutelar os inferiores, somados aí indígenas, negros, amarelos e outros mais. Notadamente os que não concordavam com eles.
Quando, depois de convencidos, os japoneses atacaram os russos de surpresa e sem declaração de guerra em Port Arthur em 1905, Theodore Roosevelt disse, quase em extase: "Fiquei muito contente com a vitória japonesa, pois o Japão está jogando o nosso jogo". 36 anos mais tarde, um outro Roosevelt, Franklin Delano, consideraria "o dia da infâmia" a manhã em que forças aeronavais nipônicas atacaram o Havaí, colocando os EUA no maior conflito da história.
O que é bom para Sebastião não é bom para Tião, presume-se!

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