7 de fevereiro de 2012

Templo é dinheiro!

Demorou mas aconteceu um escândalo financeiro envolvendo, desde o final da semana passada - ao menos com conhecimento público -, a Igreja Cristã Maranata, uma denominação neopentecostal nascida no Estado do Espírito Santo em 1968 como dissidência de outra "confissão", cresceu assustadoramente desde então, e tem algumas peculiaridades: os pastores não recebem para trabalhar, ninguém dá entrevistas, todos são discretos, conservadores e geralmente detentores de alguma parcela de poder. Lá há magistrados, políticos, profissionais liberais, comerciantes, empresários, muita gente com curso superior e bem nascida. O que não impediu um desfalque hoje calculado entre R$ 2,1 e 21 milhões. As cifras oficiais não são conhecidas. Ao menos publicamente e a menos que a Polícia já tenha alguma noção delas.
Foi a própria Maranata quem descobriu a falcatrua e afastou possíveis envolvidos. Mas a questão está nas mãos da Polícia e do Ministério Público. Estranhamente, quando o caso veio a público, a edição de domingo do jornal denunciante, geralmente com grande dificuldade em vendas avulsas, desapareceu em poucos minutos. Pacotes de 50 exemplares eram arrematados tão logo chegavam às bancas.
A Maranata é somente mais uma denominação no universo do grande negócio chamado igrejas neopentecostais. Elas se tornaram minas de ouro de algumas décadas para cá. Na Universal do Reino de Deus e na Renascer em Cristo, os escândalos são quase semanais. Líderes das duas denominações estão presos ou respondendo a processos. As noites e madrugadas das emissoras de TV estão todas alugadas a diversas "confissões". Pode-se ver "milagres" dos mais diversos "profetas" e "enviados do Senhor", além de outros mais, prometendo o céu aos fieis. O deles já foi conquistado. Quase todos têm jatos particulares, helicópteros e moram em mansões, às vezes no exterior. Do Brasil, das mais diversas formas, saem caminhões de dinheiro recolhido de dízimos - essas cifras não pagam impostos - com destino a paraísos fiscais ou empresas de fachada localizadas nos mais diversos lugares. Os laranjas são quase incontáveis.
O poder público, sobretudo a classe política, convive com essa promiscuidade de olhos fechados. O ex-presidente Lula recebeu pessoalmente grande número de chefes de "igrejas" e com alguns deles fez acordos visando eleições. A impunidade e a não investigação dos atos praticados pelas seitas ofende a todos. Até mesmo emissoras de TV, rádios e jornais estão hoje nas mãos dos miliardários donos desta ou daquela seita. E em condições suspeitas: eles nunca aparecem como proprietários.
Ao que tudo indica, coisa parecida ocorreu na Maranata sem conhecimento de grande parte dos que a dirigem. A Polícia desconfia de investimento de dinheiro do dízimo em imóveis localizados em regiões nobres do Estado do Espírito Santo e talvez até mesmo em Miami, nos EUA, cidade pela qual picaretas dos mais diversos matizes, todos "pastores", "bispos " ou outros tipos de "eleitos de Deus", têm especial predileção. Também, pudera, lá estariam longe dos olhares mais fiscalizadores das coisas brasileiras e próximos do Brasil.    
Faz muito tempo, sabemos todos que a criação de grande parte das igrejas neopentecostais transformou o dito popular do "tempo é dinheiro" em "templo é dinheiro". Resta saber quando esse país de tantas falcatruas desconhecidas e conhecidas terá a coragem cívica de deter essas quadrilhas, separando o joio do trigo. De finalmente se convencer de que os que dirigem parcela considerável de tais organizações não são reais pastores de denominações religiosas sérias, comprometidas com preceitos e dogmas, mas sim aproveitadores que querem enriquecer - e enriquecem - à custa da boa fé de terceiros.
E colocar os quadrilheiros na cadeia.

Em tempo: segundo um advogado que os representa, cerca de mil descontentes com a Igreja Cristã Maranata a estariam deixando. Eles devem fundar em breve uma nova "igreja", a qual terá o nome de Louvai. Espera-se então o início de mais uma escavação de mina de ouro teológica. Sim, porque muitos vão querer fazer isso. Infelizmente o Estado do Espírito Santo vem sendo sede desse tipo de "fenômeno" há algum tempo.      

Um comentário:

Anônimo disse...

estou decepcionado com a Maranata...confiava nos "irmãos " e achava que jamais isso aconteceria lá...Mas o importante é que Deus sabe quem é fiel e quem não é. Entrego a Ele a sentença a ser tomada contra esses ""joios""11