11 de novembro de 2012

A Festança das Seitas

- Prefeito, como o senhor pretende administrar sua cidade?
- Em primeiro lugar agradeço a Deus pela minha eleição. Tenho certeza de que com o apoio Dele, com Sua força, saberei fazer os que meus conterrâneos esperam de mim!
Você já ouviu isso, leitor? Quantas vezes? Se não houve como contar - e eu também não contei as minhas vezes -, pode saber que foram milhares. Porque não se trata de fé, embora ela às vezes esteja presente em alguns discursos de candidatos. Isso é uma tática e uma técnica. Usa-se essa tática e essa técnica para ganhar eleições. Municipais, estaduais ou nacionais, tanto faz.
Procure se recordar das agendas dos candidatos. Lembrou-se? Sempre tem "reunião com a igreja A", "debate na igreja B", "participação no culto da igreja C", "demonstração de fé na igreja D". E vai por aí. A cada eleição praticamente todas as igrejas, sobretudo seitas, recebem os candidatos. Agora mesmo nós vimos isso acontecer nas eleições municipais.
E não é só isso. Desconheço um percentual, mas inúmeras candidaturas foram compostas com a participação de representantes de seitas evangélicas, conhecidas com o pomposo nome de "confissões neo-pentecostais". Em Vitória, Espírito Santo, o candidato vencedor, Luciano Rezende, do PPS, o atual nome do antigo PCB ou Partidão, recorreu a esse expediente. Seu vice é neo-pentecostal. Dentre seus apoios estão várias "confissões". Em alguns casos, com desvios de dízimos e outras coisas mais.
O que faz um prefeito? Administra uma cidade. E administrar uma cidade não quer dizer atender a reclames desta ou daquela corrente religiosa. Esse atendimento muitas vezes representa ceder a pedidos que atentam contra o interesse público. Em todo o Brasil, cresce como praga a quantidade de igrejas espalhadas pelas cidades. Na maioria dos casos são entidades novas ou "semi novas", fundadas com o claro intuito de enriquecer seus dirigentes. Alguns deles desfilam em aviões executivos de vários milhões de dólares. Muitos possuem mansões em outros países. Depósitos em paraísos fiscais. E problemas, muitos problemas, com o Fisco. Mas um ponto em comum eles têm: nenhuma dessas "entidades", podemos chamá-las assim, paga impostos. Os mesmos que penalisam o cidadão comum.
Geralmente as igrejas chamadas seculares não usam esse tipo de artifício ou recurso. Se o usam, fazem isso discretamente. E sempre mais para defender seus dogmas do que para conquistar favores do Estado. Afinal, quem ganha favores deve favores.
E os projetos de governo, aqueles que realmente interessam às populações? Esses são atendidos na medida do possível, depois de feito o butim dos cargos públicos para atender a essas correntes de apoio migratório. Em grande parte dos casos, nem sequer atendem ao interesse público. Mas continuam tendo um ponto em comum: como representam custos, esses custos são repassados aos contribuintes. Àqueles que não fazem parte das festanças das seitas.                 

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