27 de março de 2013

Eles não estavam na praia

Vira e volta a gente recebe pela internet algum texto falando sobre como era fácil namorar dentro do carro à beira do mar sem ser assaltado, passear pela praça, caminhar à noite, ir ao cinema e fazer várias outras coisas sem incômodo algum nos tempos da ditadura militar. Enquanto hoje...
Em alguns textos, exemplifica-se a diferença de nível de vida entre os generais que ocuparam o poder naquele período e não morreram ricos e o que acontece hoje. Lula, por exemplo, o maior representante dos sonhos de pós-ditadura, é hoje um dos homens mais ricos do Brasil. Sem mandato, mesmo assim percorre o mundo de cima para baixo, sempre patrocinado por grandes empresas, como lobista. Durante os 21 anos do regime militar, nenhum dos ex-presidentes fez isso, embora alguns tenham exercido cargos diretivos em empresas brasileiras de grande porte, todas elas públicas.
Vamos por partes como diria Jack, o Estripador.
Ninguém poderia imaginar, no pós-85, que os ex-militantes de esquerda reunidos sob a sigla do PT tinham como objetivo chegar ao poder para tomar posse do dinheiro público. Isso era inconcebível! Eu mesmo, que votei em Lula em  2003, embora já fazendo objeções a ele, imaginava que esse ex-metalúrgico com tanto suor dispendido em comícios e campanhas políticas e tão pouco no trabalho do dia-a-dia, estivese cercado por idealistas que, agora do outro lado, lutariam por uma nova sociedade. Ledo engano. Eles lutaram por eles mesmos e seus interesses corporativos. Alguns já foram condenados à prisão pelo STF e Lula, numa de suas idas e vindas, sempre diz, esse última a saber, que não sabe de nada.
Mas o mensalão e outros crimes existe, sim.
Fica difícil defender os tempos atuais? Não, não fica. Essa quadrilha é uma pequena, ínfima parcela da imensa legião dos verdadeiros idealistas que lutaram pelo Estado de Direito entre 1964 e 1985. Os que formam a imensa maioria, envergonhados, assistem à distância à festa da corrupção. O aumento da insegurança e da criminalidade é um fenômeno dos tempos e não desse atual sistema de governo.
Durante os 21 anos de ditadura, sobretudo após o AI-5, não havia garantias individuais. Milhares de brasileiros foram presos ilegalmente, torturados e mortos. Outros foram exonerados do serviço público. Mais alguns milhares, fichados nos órgãos policiais políticos, não eram aceitos em grande parte das empresas privadas. O sofrimento foi imenso.
Para não me alongar muito, cito o exemplo de uma ex-presa política que passou dias numa cela com porta toda lacrada, sem janelas, paredes pintadas de negro, tão pequena que era impossível esticar as pernas para dormir, onde não comia e de onde somente saia para ser torturada, sempre que capuz e tendo que chamar seus torturadores de "doutor". Nas poucas vezes em que tirou o capuz, viu policiais carregando sacos de pano, grandes, de onde pingava sangue e
era possível ver, pelo contorno, pedaços de seres humanos.
Ela e os demais não estavam namorando dentro dos carros, à beira do mar!           

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