6 de março de 2013

No hay camino!

Morto oficialmente, Hugo Chavez deixa para a Venezuela um legado de diminuição da miséria, o que efetivamente aconteceu ao longo de seus anos de poder, mas paralelo a isso está legando aos que o sucederão um país sem indústria, com agricultura e pecuária incipientes e um caos social que pode levar a todos até mesmo a uma guerra civil caso as questões nacionais mais importantes, urgentes, não possam ser solucionadas por acordo negociado.
A exemplo de Lula aqui no Brasil, Chavez fez um governo populista e demagógico. Sua "opção preferencial pelos pobres", que pode ser traduzida na foto que ilustra esse texto e o mostra beijando um crucifixo, tinha cunho sobretudo eleitoral. As ações e sua divulgação visavam sempre às próximas eleições, fossem elas provinciais ou nacionais. O Chavez que ajudava os pobres com os bolsa-família dos venezuelanos governava para si e seu grupo. Como Lula fez no Brasil. A diferença é que talvez a Venezuela tenha menos "aloprados" do que nós. Ou então os de lá são mais discretos, mais competentes na arte de desviar dinheiro público sem provocar muito alarde.
Diminuir a miséria e tentar melhor distribuir a renda dos países é sempre um mérito para governantes e seus programas de governo. Mas jamais quando o preço disso é a renúncia total à ética e a feitura de acordos políticos capazes de fazer corar até mesmo os demônios que os políticos tentam em vão exorcizar.
Morto, Hugo Chavez deixa uma Venezuela cheia de incertezas e em clima de animosidade já demonstrada nos confrontos entre militantes e jornalistas "de oposição", como foi visto na noite do anúncio de sua morte. Há um caminho legal  a ser seguido para a escolha do próximo ocupante do Palácio Miraflores, mas talvez ele não baste aos sonhos e à saciedade dos pretendes ao trono bolivariano. Afinal, até mesmo nas hostes chavistas mais ferrenhos há inimigos que não podem ser considerados como fidalgais.
O  que a Venezuela será no pós-Chaves ainda é uma incógnita. E serão os venezuelanos, depois das exéquias e do choro sempre incontido e voltado para a mídia que Lula demonstra nesses momentos os responsáveis por traçar o caminho. Não seria mau, então, se eles lembrassem o célebre poema sevilhano de Antonio Machado, no qual este diz ao caminhante que não há caminhos. A gente faz o caminho ao caminhar, pois são nossas pegadas o caminho, e nada mais.
Não creio que o Rei de Espanha, Juan Carlos, com quem Chavez teve grave entrevero, se irrite com a citação de Caminante numa hora em que ela é necessária:
Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.
 

Portanto, os milhões de venezuelanos que pranteiam seu presidente, desfilando ao lado de um caixão coberto por flores e oferendas outras por uma Caracas paralisada, e só vão voltar ao normal, ou à vida normal, talvez bem depois do sepultamento desse caudilho de morte prematura, já sabem ou em breve saberão que terão de fazer o caminho ao andar. Nas pegadas ficaram 14 anos de chavismo, de um personalismo capaz de prostrar.
Em tempo: o texto é aberto com o termo "morto oficialmente" porque há grande desconfiança de que o presidente venezuelano tenha falecido em Cuba por volta do dia 26 de dezembro, sendo embalsamado em seguida. Isso coincidem ais ou menos com a visita dos irmãos Castro ao hospital onde ele estava internado e depois do que foi dito que "viemos até aqui nos despedir de um camarada". Após isso ninguém mais, nem mesmo chefes de Estado, conseguiram vê-lo.                  

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