10 de janeiro de 2014

O Brasil inacreditável

Roseana Sarney, que hoje está sendo xingada de todos os nomes pelo Brasil que pensa, é um exemplo pronto e acabado da velha política brasileira. Essa política que sobrevive, herdada por ela do pai, José de Ribamar Sarney e sustentada pelo Brasil que não pensa.
Roseana olha para a frente com cara de quem não entende o "outro" mundo
Para ela não existe problema algum em encomendar lagosta, caviar, camarão rosa, file mignon e outros manjares mais para abastecer o Palácio dos Leões e a vivenda de descanso da família enquanto um massacre acontece na maior penitenciária de seu Estado, o Maranhão. Não há problema algum se a conta da comilança é maior do que a verba destinada aos presídios maranhenses e ao esforço para fazer com que eles sejam mais humanos. O mundo de Roseana é um. O da realidade do Maranhão, outro. Por isso ela disse candidamente que o problema da criminalidade de seu Estado acontece porque ele está enriquecendo. Não importa se enriquece poucos. O mundo de Roseana não é o mundo real e, no mundo dela, preso tem mesmo é que morrer na cadeia.
Um filmete que corre na internet mostra um dono de seita evangélica nordestina preso por ter engravidado uma menina de 14 e outra de 15 anos, ambas frequentadoras de seus cultos juntamente com os responsáveis. Na delegacia ele, o "pastor", disse que não é o pai das crianças. Elas foram geradas por ordem divina e são filhas do Espírito Santo. O pai de uma das meninas, ancorado pela filha que também crê nisso, assegura que é verdade: ele será o "sócio" do Espírito Santo.
É esse o Brasil que elege Roseana. Que mantém a velha política brasileira no poder num sistema de troca-troca onde o Executivo e o Legislativo se "ajudam" mutuamente para que seus líderes renovem mandatos até a hora da morte à custa do dinheiro e da ignorância de parte da população. É por isso que ministérios, secretarias e outros cargos são objeto de barganha. Esse sistema promíscuo mantém a velha política. Peca quem imagina que a República Velha está morta e sepultada. Alguns de seus fantasmas sobrevivem aqui e ali e se alimentam do Brasil sem informação, do Brasil refém do Bolsa Família, do Brasil que Roseana Sarney não conhece e nem quer conhecer.
Luís XVI e Maria Antonieta também não conheciam a realidade da França do final do Século XVIII. No caso deles, conhecer foi mais traumático. No Brasil de hoje, com um sistema educacional falido e um SUS que ajuda a morrer, o sistema de promiscuidade geral se sustenta graças às carências do País e não ao seu progresso. Afinal, praticamente todos os miseráveis deserdados pelo Estado acreditam que isso acontece por vontade divina. E vontade divina não se contesta.
Então um homem do sertão nordestino vai esperar que a filha dê à luz um filho ou filha do Espírito Santo e Roseana Sarney continuará na Ilha da Fantasia, vendo o BBB 14, comendo lagosta e petiscos de caviar. É o mundo deles. Dos extremos desse Brasil inacreditável.  

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