4 de janeiro de 2014

O caldo de cultura

Bombeamento em Guaranhuns. Situação de emergência mesmo com um projeto pronto há dez anos
Os jornais que circulam hoje (04/01) em Vitória trazem uma notícia que tem referência direta com os danos provocados no Estado pelas chuvas de final de ano: a Prefeitura de Vila Velha, teoricamente o município mais atingido por seu porte e população, está fazendo uma superestação de bombeamento de água para acabar com os alagamentos no Bairro Guaranhuns. Beneficiará outros pontos de alagamento sério como Jockey, Portal das Garças e outros vizinhos.
Vamos aos fatos: o projeto de construção de três estações de bombeamento de água em Vila Velha, que impediriam esses tormentos, foi concluído em 2004. Tem dez anos. Repito: DEZ ANOS. De lá para cá foi construído apenas o canal de Guaranhuns, que não serve para nada sem a estação de bombeamento, que funcionaria automaticamente jogando água para o mar via o Rio Jucu sempre que uma grande chuva atingisse a região. Das outras duas nem se ouviu falar até hoje.
Por que não há esse tipo de alagamento em Vitória? Porque aqui existem três estações de bombeamento que funcionam sempre que uma grande chuva nos atinge. A cidade alaga, sim, pois sistema algum suporta dilúvios. Mas em 12 horas as ruas e avenidas estão com a água escoada. Vila Velha necessita de equipamentos idênticos, sobretudo nas regiões mais atingidas. Esses bairros são muito baixos e alguns de seus setores situam-se abaixo da linha da preamar. Por isso não há escoamento por gravidade. Ocorre o contrário, também por efeito da gravidade.
Todos os engenheiros que trabalham direta ou indiretamente para a PMVV há anos sabem disso. Eu sei porque eles me contaram. E os prefeitos que passaram por lá sabem também. Cada sistema desses custa, completo, cerca de R$ 80 milhões. Muito dinheiro, não é? Mas está barato perto dos danos constantes às áreas públicas causados pelas enchentes e, sobretudo, às milhares de pessoas que residem na região, a imensa maioria delas pobres. Carentes de quase tudo.
Da mesma forma o Espírito Santo não conviveria com tragédias se fossem impedidas ocupações de encostas. Isso ocorre no Estado quase todo por omissão do poder público. Para ganhar eleições, governantes fazem que não estão vendo a ocupação dos morros - terras públicas - em regiões às vezes com inclinação excessiva, a destruição da cobertura vegetal e a exposição das terras nuas. Basta uma chuva forte, demorada e o solo encharca. Em seguida ele cede ao peso acima, desliza morro abaixo, destrói residências e mata as pessoas. Também por efeito da gravidade.
Eis o caldo de cultura das tragédias.       

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