14 de julho de 2014

Chega de unanimidades

Telê Santana, o gênio ético  não questionado em 1982 na Copa da Espanha
Nelson Rodrigues disse que toda unanimidade é burra já faz tanto tempo que quase todo mundo se esqueceu disso. Ou então não considera essa verdade do esporte - e que serve a todo o restante da atividade humana - por mero oportunismo. A Copa do Mundo do Brasil nos lembra isso.
Com a saída de Mano Menezes do comando da Seleção, foi contratada uma comissão técnica com espaço quase todo o tipo possível e imaginável de especialistas, inclusive uma psicóloga que literalmente só atendia quando chamada. Por telefone, digamos. Aquele grupo de pessoas tinha duas coisas em comum: eram todos da confiança irrestrita do treinador Luiz  Felipe Scolari e donos da verdade. Seus egos não cabiam no espaço acanhado da Granja Comary.
Lembram-se da nossa Seleção de Vôlei Masculino? Evitou uma desclassificação vexatória em fase preliminar da Liga Mundial por um quase milagre. Há vários anos precisava começar um lento e seguro processo de reestruturação por renovação, mas o procedimento foi sendo adiado, adiado, adiado e adiado até surgirem derrotas tão terríveis que alguém teve a coragem de questionar Bernardinho. Sim, porque Bernardinho é outra unanimidade e também carrega ego monumental.
Com a Seleção de Scolari aconteceu o mesmo. Os dirigentes do futebol brasileiro entendem de tudo, menos de futebol. Entendem de pequenos, médios, grandes negócios e negociatas. Nesse último caso, faça-se justiça a eles, envolvendo o futebol. Eis aqui o exemplo de João Havelange, nosso capo dei cappi de 98 anos bem vividos e curtidos em vôos internacionais de primeira classe.
Pois Luiz Felipe Scolari, campeão mundial em 2002 e derrotado como técnico de Portugal, do Chelsea, do Palmeiras e em mais outros exemplos, assumiu o time do qual Mano Menezes havia sido defenestrado, para o que desse e viesse. Para a vitória ou o fracasso. Como era de se esperar, veio o fracasso. Afinal, aqueles era o time de sua total confiança. Nada mais se discutia.
Quando falo de nossas unanimidades burras, doe-me o coração. Conheci em apenas duas únicas e rápidas oportunidades o cidadão Telê Santana, patrimônio ético e moral do futebol brasileiro. Coube a ele dirigir o time de 1982, um dos maiores de todos os tempos. E como alguém iria dizer ao grande Telê, ao nosso técnico exemplar, que aquela Seleção escalada com Sócrates, Zico, Falcão e Éder, quatro atacantes, deixava perigosamente vulneráveis o meio-campo e a defesa? Não, coragem ninguém teve. Nossos adversários italianos perceberam isso e perdemos a Copa. Depois perdemos em 1986 por motivos outros como o envelhecimento do time. Telê e uma grande geração ficaram sem um título mundial na única ocasião em que o silêncio diante da unanimidade foi compreensível.
Agora, não. Agora é hora de nunca mais nos rendermos a isso. Mesmo se for para afagar egos de grandes cadeias nacionais de TV que se beneficiam de matérias exclusivas. Chega. Perdemos um Mundial de maneira humilhante. Não era preciso que fosse assim. Mas nem sequer houve tempo de treinar o time direito, tantas eram as gravações de comerciais contratadas pelo "professor".
Basta! Precisamos de planejamento, de seriedade, de questionamentos e de encontrar um caminho que nos resgate ao menos a dignidade. Ela ficou pelo caminho mas dá para localizar.     

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