11 de junho de 2016

Metamorfose calhorda ambulante

Em 1996, como ele mesmo fez questão de lembrar no discurso feito na noite de 10 de junho na Avenida Paulista, Lula denunciou "os 300 picaretas do Congresso". De lá para cá muita água passou por debaixo da ponte e a "metamorfose ambulante", como o ex-presidente de definiria um belo dia, acabou sendo amigo fraterno de muitos desses picaretas. Precisava deles para governar o Brasil e como seus atos se confundiam com os dos picaretas, o País passou a não conseguir diferenciar quem eram esses e que eram aqueles (no caso, Lula e seus ministros/amigos mais chegados).
Na noite de 10 de junho Lula retornou ao discurso de 20 anos passados. Disse sobre um caminhão de som durante os protestos petistas contra o presidente interino Michel Temer que os 300 picaretas de antes hoje são talvez muitos mais. Não sei se ele se inclui no rol. Incluo-o eu por minha iniciativa.
Lula não tem pudor. Para ele, o dito ontem não fica registrado. Não nas mentes daqueles que pretende alcançar com seus arroubos de boquirroto irresponsável. Diz, desdiz, acusa, nega, denuncia, recua e, sobretudo, mente. Mente desaforadamente o tempo todo. Tenta de todas as formas construir a cada dia uma "realidade" nova que sirva aos seus interesses. Elas, claro, nada têm em comum. Os interesses, claro, mudam a cada dia passado. Em comum as "realidades" de Lula guardam o fato de não serem reais. Como a vida dele é baseada em ficção política, suas "realidades" também o são.
Lula ameaça ser candidato à presidência da República em 2018. Promessa essa que guarda algum risco. Até lá existe a hipótese de que a "alma viva mais honesta desse País" - mais uma vez como ele próprio se definiu numa entrevista a jornalistas - esteja presa acusada de uma série de crimes. A alma e seu dono. O principal desses crimes, de ter usado a presidência da República para enriquecer desonestamente, enriquecer sua família, seus amigos e um seleto grupo de grandes empresários brasileiros, a maioria dos quais empreiteiros de obras públicas. Para azar de Lula, tanto esses empresários quanto muitos dos mais próximos amigos de governo do início dos anos de ouro do PT, em 2003, estão hoje cumprindo pena por crimes os mais variados possíveis.
Mas esse tipo de coisa não entra na cabeça de Lula. Ou então entra e ele expulsa. No discurso da Paulista (veja a foto que ilustra esse texto) ele não encampou em momento algum as teses atuais da presidente afastada Dilma Rousseff. Falou em respeito aos votos sem tocar no ponto crucial: votos e eleições têm que ser conquistadas dentro da lei. E mais uma vez usou a velha tática do amigo dos pobres, daquele que governa pelos menos favorecidos num instante da vida brasileira em que todos sabem, sobejamente, que Lula governa para si próprio e para os ricos que lhe dão apoio.
"A alma viva mais honesta desse País" é um mito que a realidade vai aos poucos desmontando. E a "metamorfose ambulante" existe. Mas é uma metamorfose calhorda ambulante.        

Nenhum comentário: