4 de julho de 2020

Guerra contra a luz do sol

Dizem que quem não tem luz própria teme desesperadamente o brilho do sol. Deve ser verdade porque essa anomalia atinge hoje o Brasil, leva-o a uma guerra contra si próprio e se origina no topo do poder federal, em Brasília. Mais precisamente no Palácio do Planalto.
Ontem o presidente da República desfigurou um texto legal originado no Congresso, vetando-o quase totalmente. Foram 17 os pontos cortados. Como é contra o isolamento social e outras medidas contrárias à pandemia da Covid-19 consideradas prejudiciais à economia, faz disso uma cruzada toda sua. Apenas sua. E desconhece a opinião da imensa maioria da sociedade. Desconhece e desrespeita.
Na sua sanha anticiência, vetou até mesmo a ajuda aos mais necessitados para a aquisição de máscaras de proteção individual, da mesma forma como avançou contra as multas que estavam previstas no texto legal e que permitiriam punir aqueles que se insurgem contra a legislação agora em vigor, colocando em risco suas vidas e as de terceiros durante esses tempos duros de incertezas. Felizmente estados e municípios têm o poder de produzir decretos nessa área.
Jair Bolsonaro teme a luz do sol, apagado que é. Defenestrou do governo o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, porque este estava se tornando popular demais. Inviabilizou a permanência do segundo na pasta, Nelson Teich, mostrando a ele que uma droga chamada cloroquina e produzida no Brasil pelo laboratório de um seu apoiador pessoal incondicional de campanha deve ser imposta a todos, mesmo não tendo eficácia científica alguma comprovada. Somente efeitos colaterais.
Fez com que também fosse embora o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e pelos mesmos motivos. Nesse ponto a situação é ainda mais grave: tornou-se fixação presidencial não apenas interferir na Polícia Federal, mas subjugá-la a seus interesses. Quer, dessa forma, reduzir ou eliminar a possibilidade de seus filhos virem a ser investigados pela Justiça. E, por extensão, ele também.
Se no seu percurso futuro outras pessoas chegarem a ameaçar seus planos de concorrer à reeleição em 2022, fará o mesmo. Permanecer na presidência da Republica é o objetivo único e sagrado do atual presidente. Para atingir esse objetivo fará de tudo. Até mesmo deixar para um possível segundo mandato os projetos de destruir a Amazônia, acabar com as populações indígenas e tentar impor ao País uma forma nazifascista de ver a administração publica e as relações interpessoais.
O pior é vermos que enquanto isso tudo se passa, os principais personagens secundários desse tabuleiro de xadrez político se digladiam em vez de fechar fileiras em torno de uma frente ampla capaz de deter o escalar megalomaníaco do detentor do poder. E o fazem por vingança ou projeto pessoal, mesmo sabendo que assim agindo estão dando luz à escuridão reinante em Brasília.
Mas o sol vai continuar nascendo, para desespero dos obscurantistas.                           

2 comentários:

Luiz Cláudio Ribeiro disse...

Não há mal que sempre dure!

Mauricio disse...

Ótimo texto... Me traz àlà da alegoria da caverna de Platão. Os que se recusam a ver a luz, a verdade, tem ódio daqueles que conheceram a luz, a verdade...