25 de maio de 2021

Movimentos calculados


Por que Jair Bolsonaro conseguiu evitar uma nota do Exército criticando o general Pazuello com um simples telefonema dado de Quito, no Equador, para Brasília? E por que ele não vai impedir a punição de seu ex-ministro da Saúde que o atende como se fosse um serviçal comum? Trata-se de  movimentos calculados e aproveitamento de oportunidades. Oportunismo, em resumo.

Se o presidente for desmoralizado agora, vai perder mais espaço político, pois isso já está ocorrendo. O Centrão, excrescência política focada unicamente em seus interesses mais diretos o abandonará no meio do caminho. Aí será quase certo que um processo de impeachment seja aceito, votado e aprovado no Congresso. Isso colocará a presidência da República literalmente no colo de Lula ano que vem. Tudo o que os militares e forças reacionárias brasileiras não querem.

Em 1964 vivíamos a época da guerra fria. Havia um medo disseminado de que o comunismo tomasse conta do Brasil sabe-se lá como. Quando houve o golpe militar uma frota norte-americana estava no litoral brasileiro pronta para intervir se as coisas dessem errado. Era a "Operação Brother Sam". A intervenção não foi necessária e, para os interesses dos EUA, tudo deu certo.

Isso passou e hoje os tempos são outros. Nos Estados Unidos é muito mais difícil embarcar numa aventura como essa. No chamado "mundo livre", que é livre mas nem tanto assim, a política de não intervenção direta substituiu a dos cowboys que, via embaixadores, aterrorizavam países com pouca ou nenhuma importância estratégica ou militar (leiam "Ásperos Tempos", de Mario Vargas Llosa).

Bolsonaro sabe de tudo isso. É sociopata inteligente. Quando pegou o telefone e ligou para Brasília não estava peitando o Exército para impedir a nota de desagravo a Pazuello. Ele não é tão forte assim. Estava jogando as cartas: "Dinamitem-me e Lula vence!". Não o dinamitaram. Mas o general capacho vai ser punido para que a instituição militar não se desmoralize mais ainda.

A foto que ilustra esse texto (de O Globo) mostra nosso Bozo erguendo o braço do presidente eleito do Equador - um político de direita, mas não de extrema direita - como se ele fosse um troféu conquistado. Na cabeça do brasileiro as coisas funcionam assim. E lá ele está de máscara. Resta agora a nós nos insurgirmos contra o fato de que aqui ele desrespeita normas, leis, ética e tudo o mais. E a não ser por uma única e miserável multa aplicada pelo governo do Maranhão, tudo passa em brancas nuvens. 

Mas todos somos súditos das leis.               


Um comentário:

Aurélio Carlos disse...

O Globo: afinal, dicotômico, contraditório ou simplesmente dissimulado? Registro que gosto do jornalismo da TV Globo, com olhar muito atento, crítico e protegido.