3 de junho de 2021

As milícias e seu gangsterismo


Eram 03h40m da madrugada de hoje. Depois de "avisar" aos moradores com estalos típicos de desabamento, um prédio de cinco andares veio abaixo no bairro carente de Rio das Pedras, Rio de Janeiro (vejam pela foto aérea), região dominada há décadas por milícias. Quase todos tiveram tempo de evacuar o edifício menos quatro pessoas que ficaram feridas e uma criança de dois anos e o pai dela, mortos debaixo dos escombros. Como pode isso acontecer? Como pode se já aconteceu antes na Muzema e o desabamento deixou um rastro de 24 pessoas mortas soterradas?

É simples. Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP é autor de um livro de título "A república das milícias - Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro", estudo de fôlego e fruto de longas pesquisas. Milícias, grupos paramilitares armados, impõem o terror pelo medo em regiões carentes do Brasil e só existem onde o Estado não está presente. Por isso estão no Rio.

Elas nasceram antes mesmo dos governos do líder populista Leonel Brizola. Em terras públicas invadidas sem que os governantes fizessem nada para evitar. Esses grupos chegaram depois dos traficantes para "proteger" as pessoas. Expulsaram o tráfico, tomaram conta das regiões e impuseram o terror. Hoje todo mundo tem que pagar "proteção". Tem imposto sobre gás, diversos outros serviços de primeira necessidade, inclusive "gatonet". Os moradores se livraram de um mal e o trocaram por outro.

É diferente do que aconteceu em São Paulo. Lá a expansão se deu em regiões industriais e o Estado estava presente porque a ele interessava a infraestrutura nas regiões. Além disso a igreja católica era dominada pelas Comunidades Eclesiais de Base comandadas por Dom Paulo Evaristo Arns, que não tolerava algumas práticas. O que não impediu o tráfico nem bandos criminosos como o PCC.

As milícias são piores? Claro que sim, haja vista o que vem acontecendo, pois todas as construções são irregulares e feitas em áreas protegidas com destruição de mata nativa. E por que não se faz nada? Por diversos motivos, sobretudo pelo fato de que por onde se passa nessas regiões são encontradas as digitais da "familícia" Bolsonaro e dos políticos corruptos nascidos da necessidade de controlar as populações. Isso explica a luta do atual presidente pela volta do voto impresso pois fica mais fácil "cabrestar" os eleitores nesses bairros dessa forma. Mas esse ponto é assunto para outro artigo.                   

Nenhum comentário: