20 de setembro de 2021

O educador grande demais


Quase tudo o que poderia ser dito sobre Paulo Freire já está publicado, inclusive nas incontáveis matérias jornalísticas levadas aos leitores no dia de ontem, quando foram completados 100 anos de seu nascimento. Mas nada esgota os assuntos referentes a esse monumental educador brasileiro que morreu há um quarto de século e continua sendo cultuado como se tivesse desaparecido ontem.

Li "Pedagogia do oprimido" faz algumas décadas e jamais me esqueci das lições dadas por Freire no livro onde ele prega uma pedagogia capaz de unir professor, aluno e sociedade. Uma visão inclusiva do ensino como forma de fazer crescer a qualidade intelectual de todo um povo e não apenas dos brancos, ricos e praticantes dessa ou daquela religião. Ele previa a educação de todo mundo e por isso projetava seu trabalho através dos oprimidos. Era duro para madame imaginar uma sociedade onde os filhos de sua empregada doméstica teriam a mesma oportunidade de ingressar na Universidade que seus filhos. Mas era esse o Brasil de nosso maior educador. Era esse o Brasil que incluiria a todos.

Chego a sentir asco hoje quando ouço e vejo o ministro de deseducação do atual governo falando que ensino universitário deve ser para poucos. Dá vontade de vomitar quando ele proclama que os deficientes atrapalham o ensino dos "normais". Mas é exatamente assim que o governo Bolsonaro vê o mundo das famílias "eleitas", das rachadinhas, das filas que são furadas, da economia sempre decidida pela vontade e opinião dos detentores do capital e jamais com a participação do trabalho. No mundo torpe e apoiado por um gado emagrecendo a cada dia o único argumento forte e repetido à exaustão é o pregador o ódio, golpe de Estado, invasão de terras públicas, destruição do meio ambiente e de opositores.

Paulo Freire era e é odiado por essa gente porque sua sombra não pode ser desconhecida. Porque ele e sua pedagogia do oprimido, que tantos destes deserdados tirou do analfabetismo, hoje serve de horizonte para aqueles que jamais vão aceitar o mundo da grilagem de terras, do massacre indígena e da falta de expectativa dos que passam diante das universidades e escolas técnicas olhando para elas e dizendo: Isso é meu. Minhas mãos pobres e calosas ergueram esse património tão caro.

Paulo vive. Essa gente do atual governo federal, não. Freire é grande demais.     

   

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