28 de fevereiro de 2022

O inferno de Dante

"Os lugares mais sombrios do inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral" Esse pensamento é de Dante Aligheri e descrito no seu "Inferno de Dante" para mostrar onde, segundo ele, vão parar os que se omitem em momentos de grande crise. Ao menos alegoricamente. Como não alegoricamente a maioria dos países faz hoje na ONU (foto).

Sempre é bom ver os dois lados de uma questão, sobretudo essa tão candente como a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Se o diálogo não houvesse cessado quase antes de começar e se o calor das discussões também não tivesse tido a participação agressiva e ao mesmo tempo distante dos Estados Unidos, é possível que o povo ucraniano não estivesse passando pelo que passa esses dias.

Lado um da questão: a Ucrânia tem o direito de se associar à União Europeia em busca de um guarda chuvas de desenvolvimento econômico nesses tempos de instabilidade sobretudo política. Lado dois da questão: a Rússia tem o direito de não se ver cercada por tropas hostis e mísseis de uma União de estados europeia que depois do término da guerra fria tem pouca ou nenhuma razão de existir. Razões havia antes da dissolução da União Soviética. Agora, não. Agora basta que o relacionamento entre nações seja feito sem a necessidade de uma sobrepujar a outra  militarmente por intenções externas à Europa.

O atual presidente dos Estados Unidos, Joel Biden, vive momentos de baixa popularidade num ano em que o congresso dos Estados Unidos vai ser renovado em parte, o que pode dar ao Partido Republicano de seu inimigo Donald Trump supremacia nas duas casas legislativas. Para se recuperar diante da opinião pública ele mostra com toda a força seu lado belicista para uma disputa das mais perigosas contra Vladimir Putin, um direitista de ocasião, demagogo e com pendores czaristas.

É um caldo de cultura de tragédia.

E onde fica o Brasil nesse sopa de letrinhas? Fica sobre o muro. O presidente carnavalesco Jair Bolsonaro pediu licença aos milionários que o recepcionavam num iate de luxo no Guarujá, colocou uma camisa azul e, com seu estilo pouco ou nada letrado procurou explicar que precisamos de fertilizantes, petróleo e outros produtos que a Rússia produz e não produzimos por incompetência, como é o caso do trigo. E não podemos tomar partido, como se alguém não soubesse qual ele já tomou. Depois voltou à bermuda e ao carnaval porque ninguém é de ferro...

Mais do que aos neutros, o inferno está reservado aos covardes.

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