9 de abril de 2022

O vírus militar


Não é o maior filme de todos os tempos, está longe disso, mas vale a pena ver "A mulher de um espião", uma produção japonesa. Na foto acima, os dois principais protagonistas: o "espião" e sua mulher. O fato é real e muito bem documentado numa obra cinematográfica onde é possível ver as limitações de verba nos pequenos detalhes, como os bondes cujas janelas não mostram o que se passa do lado de fora.

Mas esse não é o mote do meu artigo. Sua razão de ser está num fato que mostra até onde vai a capacidade de destruição do totalitarismo, sobretudo militar e independente de ideologia. O "espião" descobre atos de selvageria em investigação "científica" que o Japão promovia na Manchúria ocupada em 1940. E foram os militares japoneses que arrastaram o país para a guerra e o holocausto subsequente.

Ao final do conflito mundial terminado em 1945, o Julgamento de Tóquio mostra o destino que tiveram os maiores comandantes japoneses. Sim, porque na guerra o vencedor julga o vencido e impõe a ele suas leis e penas. Não a toa os norte americanos jamais foram julgados pelos crimes de guerra cometidos no Vietnam e em outros conflitos armados dos quais participaram e participam.

Note o leitor: ao final da guerra o imperador Hiroito, homem probo e que em vida foi reconhecido como a maior autoridade mundial em biologia marítima da época, não perdeu o trono. Deixou de ter status de divindade, sua autoridade passou a ser meramente cerimonial, mas o império sobrevive intocado no Japão. Digno, austero e agora incapaz de ser corrompido pelo poder militar. Sim, porque o Julgamento de Tóquio visava destruir o militarismo japonês, o câncer daquele país, e isso foi conseguido. O império, a forma de governo, jamais foi alvo.

Nas sociedades modernas é necessário que o poder seja equânime. Não pode um estrato social ter prevalência sobre os demais, sobretudo um setor armado. Ele pode ser levado a se considerar dono do Estado, artífice da Justiça, acima das leis e dos costumes quando não concordar com eles. Se isso se tornar agudo os danos que o país sofrerá são inimagináveis. Um dia o Brasil vai ter que liquidar, preferencialmente por via pacífica, com o vírus de seu militarismo. E é chegada a hora. 

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