13 de julho de 2023

Inoportuno e verdadeiro


Sim, fomos nós os que lutaram contra a ditadura militar de 21 anos e que devolveram o Brasil ao estado democrático e de direito que estava distante fazia tanto tempo. E quem muito bem saudou a Constituição Cidadã de 1988 foi o saudoso deputado federal Ulisses Guimarães quando disse em seu discurso de apresentação da carta magna que "traidor da Constituição é traidor da Pátria". E mais adiante que os brasileiros presos ilegalmente, torturados e assassinados são os verdadeiros patriotas.

Também tenho nojo dessa gente da ditadura. Nojo e ódio.

Talvez tenha sido inoportuna a fala do ministro do Supremo Tribunal Federal José Roberto Barroso (esse da foto) quarta-feira numa reunião da UNE, quando afirmou que os brasileiros derrotaram o bolsonarismo. Derrotaram mesmo e a diferença foi pequena porque o chefe de governo usou de todos os artifícios, principalmente os desonestos, para evitar a derrota na eleição passada. Queimou uma dinheirama imensa para comprar votos, ameaçou, fechou estradas para os eleitores não chegarem às suas seções eleitorais e muito mais. Até ministros das relações exteriores foram convocados ao Palácio do Planalto para ouvir suas queixas. As urnas que o elegeram durante 28 anos foram atacadas porque ele queria votos de papel para alterar o resultado.

Tive amigos presos ilegalmente e torturados pelos órgãos de repressão. Nenhum deles foi assassinado, mas inúmeros outros foram. Para não me alongar cito apenas o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho. A ditadura militar brasileira foi uma sala de torturas. Ela não massacrou apenas aqueles que foram opositores do regime de exceção. mas também inocentes.

1988 só chegou para encerrar toda essa escuridão porque gente como os patriotas da UNE, eu e milhões de outros lutaram contra ela. Os bobões que vaiaram o ministro devem ter se esquecido disso. Mas seria bom que se lembrassem. Que pusessem a mão na consciência. É preciso escolher quem vaiar  e analisar que um ministro do Supremo Tribunal Federal é obrigado a sentenciar olhando a Constituição.

 Sim, o ministro foi inoportuno. Mas talvez nunca tenha sido tão verdadeiro. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Ice tem razão.
Mas num País sem leitura, sem educação de qualidade o povo não pode lembrar desta história tão triste, tão deprimente que nós vivemos e repudiamos veementemente. Um povo que não lê é vítima fácil de inescrupulosos.