1 de julho de 2023

"Five Came Back"


Ouvi dia desses de um alemão radicado no Brasil que ele não era e a maioria de seus compatriotas também não são violentos ou nazistas. Com um sorriso de ironia, completou: "Nem os alemães orientais, hoje libertos do comunismo, pregam a violência". Imediatamente revi na mente o seriado "Five Came Back" (ilustração acima), que a Netflix apresenta atualmente e que conta a história da ida de cinco diretores de cinema de Hollywood para a Europa entre 1942 e 1945 para documentar cinematograficamente a Segunda Guerra Mundial. Foi uma experiência traumática para todos e os modificou radicalmente no retorno a seu país e às atividades que continuaram a desempenhar pelo resto de suas vidas. Recomendo os três episódios da série.

O que fez dos alemães um povo violento, seguidor em grande parte do nazismo de Hitler? E o italiano de adepto fanático do fascismo de Mussolini? Atrevo-me a dizer aqui que isso em muito se assemelha com o trauma passado por nós nos últimos anos no crescimento desenfreado do "bolsonarismo", um fenômeno político que se parece tanto com um quanto com outro. Podemos dizer sem medo de errar que a derrota de seu motivador, o ex-presidente brasileiro hoje inelegível, tirou o Brasil de um atoleiro institucional grave.

Os alemães não são violentos ou nazistas por natureza ou essência. Nem os italianos ou os brasileiros. Essa não é uma questão de nacionalidade, mas sim ligada a fenômenos sociais que podem eclodir em determinadas ocasiões nos planos nacional ou internacional e levam as pessoas à adoção de comportamentos coletivamente ditados pelos extremismos políticos. Um país como o Brasil pode e deve conviver civilizadamente com ideologias de esquerda e direita, mas nunca ter seu comportamento controlado por visões políticas extremistas, sobretudo da extrema direita, como acontece hoje em muitos países pelo mundo afora.

Freud afirma que, na origem, amor e ódio não concernem às pulsões. Ele explica seu pensamento: "O ódio, enquanto relação de objeto, é mais antigo que o amor: nos primórdios da origem ele tem sua fonte na recusa do mundo exterior que emite estímulos, recusa que emana do Eu narcísico". Ele surge de frustrantes relações objetais, do desprazer. É preciso fazer com que um grupo de pessoas ou até parte considerável de uma população sinta asco de outra, levada a isso por circunstâncias às quais não consegue reagir. E gerar o ódio não é nada difícil se esse grupamento populacional já sente ojeriza por uma dada situação. Aqui nós conseguimos gerar esse fenômeno pela aversão de parcela de nossa população pelo petismo e o comunismo.

Mas os dramas que situação assim geram são terríveis e "Five Came Back" mostra claramente o fenômeno em seu último episódio. Retornar a uma certa normalidade social é tarefa lenta e de sucesso não garantido, ao menos em curto prazo. Mas urge tentar. Numa outra conversa com um conhecido, ao fazer crítica ao extremismo de direita brasileiro, ouvi dele que a esquerda também comete violências. Expliquei: "Isaac Newton, célebre matemático, diz em sua terceira lei que a toda ação corresponde uma reação igual e contrária". É preciso começar combatendo a ação geradora da incivilidade.               

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