10 de agosto de 2023

É isso o que nós queremos?


- Qual é a senha?

Ele não sabia de senha alguma. Morava na pensão onde foi preso. Na entrada do lugar estava afixado o prato do dia. Lá haviam sido escritos feijão, arroz, bife, salada, macarrão, coisas como essas. Os policiais que o prenderam pensaram que aquilo era uma senha terrorista e levaram o pobre fotógrafo Gildo Loyola Rodrigues para um quartel. Ele foi cruelmente torturado. Um militar, ao notar que um de seus dados estava machucado, falou: "Vamos machucar mais!" E literalmente esmagou aquele dedo com a coronha do fuzil. As torturas foram tão fortes que Gildo precisou fazer tratamento psiquiátrico  por longo tempo depois de solto. E sequelas ficaram.

Um dia entrevistei meu velho amigo para uma revista de cultura, "A angaba", que infelizmente teve vida curta. Ele se emocionou muito, mas percorreu em palavras todo o seu calvário mais uma vez. Doce figura humana, militava numa célula comunista sem jamais ter cometido violência alguma. Era uma questão de convicção política. Ao final foi inocentado pela Justiça porque nada, rigorosamente nada, poderia ser provado contra ele. Mas, repito, sequelas ficaram.

É isso o que nós queremos? É esse o Brasil que vamos deixar para nossos filhos e netos? Se for, mostrem-me onde fica a porta da saída.

Os últimos tempos têm sido terríveis. Chovem denúncias, todas comprovadas, contra os marginais que governaram o Brasil nos últimos tempos. Deixaram atrás de si um rastro de extremistas de direita, de sonhos de destruição da democracia, de ruptura para com os valores democráticos, de extinção de conquistas sociais que sempre foram caras aos brasileiros. Têm raiva sobretudo e principalmente do fato de que eles, os fascistas, foram artífices da ditadura militar, e nós, os vários segmentos da esquerda democrática, aqueles que trouxeram o Brasil novamente para a normalidade constitucional. Eles estupraram a Constituição. Nós fizemos outra, cidadã, em 1988. Não nos perdoam por isso.

Agora mesmo a bancada capixaba no Congresso Nacional, salvo poucas exceções, é um desfile de figuras bizarras. Algumas dessas pessoas nem sequer são do Estado, mas mesmo assim terminaram sendo eleitas pelo fascismo brasileiro que atende pelo nome de "conservadorismo". Há um preço a ser pago por isso e os que elegeram esses marginais de hoje vão ter a conta pela frente. Até um ex-membro do esquadrão da morte capixaba por pouco não foi feito governador. É o horror tornado realidade.

Há, e sempre haverá opções políticas limpas, justas, honestas, para que nós as elejamos e elas nos representem politicamente em todos os planos da vida legislativa. Basta que os brasileiros se voltem para elas. Não podemos viver num país onde hoje o maior projeto legislativo em pauta agora é o de serem anistiados todos aqueles que cometeram crimes com o dinheiro público, usando-o de forma desonesta nas eleições. E ainda há o projeto de o fundo eleitoral passar dos cinco bilhões de reais. Sabemos que grande parte dessa fortuna vai ser embolsada por desonestos. 

Mas o pior são os planos de destruição da democracia, de anistiar ou absolver todos os que invadiram os três poderes da República em 08 de janeiro na calda de cometa de um projeto de golpe de Estado que o então presidente Jair Falso Messias Bolsonaro tentou orquestrar. Ele sente saudades da ditadura militar e de suas prisões ilegais, torturas e assassinatos. Adotou como seu o "Deus, pátria, família" lema de Benito Mussolini, acrescentando a isso um "liberdade" que amante da ditadura só tem da boca para fora. Afinal, em muitas ocasiões esse indivíduo exaltou o AI-5 e as figuras de torturadores.

Ele ainda quer saber qual é a senha! É isso o que nós queremos?           

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, amigo! É a nossa realidade do momento! Políticos sérios são desprezados em detrimento dos corruptos! A cegueira e doença de muitos brasileiros. Hoje estou desacreditada do meu povo.

Anônimo disse...

Tempos horríveis, mesmo. Mas, não vamos dobrar os ombros para esses fascistas.

Anônimo disse...

Parabéns, Álvaro. É de 'artigos' assim que precisamos: bem escritos, com informações precisas; fatos documentados e relatados sem lamúrias.

klovis disse...

Foi nesta época que conheci o Gildo Loyola. Tempos dificeis... Estando com ele, seja portador do meu forte e fraterno abraço, pra vc também querido amigo Álvaro. Vou estar sempre por aqui lendo seus escritos.