8 de agosto de 2023

Outros esquadrões da morte?


"O que você 'ver' aqui

O que você ouvir aqui

Quando sair daqui

Deixe ficar aqui"

Estava na porta do delegado Oswaldo Simões Sales, o Quito, o cartaz com esses dizeres. Eu tinha ido à Superintendência de Polícia Civil na rua Graciano Neves, em Vitória, para cumprir uma pauta da Folha de São Paulo, jornal do qual era correspondente no Espírito Santo. Corria o boato de que um esquadrão da morte ligado à Scuderie Detetive Le Cocq agia no Estado matando pessoas ligadas a crimes e a criminosos. Perguntei ao delegado Quito se aquilo era verdade e ouvi:

- Claro que não. Isso é coisa dos bandidos e dos comunistas.

Naquela época, década de 1970, vivíamos em plena ditadura militar e as garantias individuais tinham sido jogadas no lixo pelos governantes. Era fácil matar e esconder cadáveres. Isso estava sendo feito pelos policiais que acreditavam nas soluções fora e acima das leis vigentes e hoje parece que ao menos os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são saudosos desses tempos embora estejamos em um estado democrático e de Direito. É possível que o governo do extremista de direita Jair Bolsonaro tenha tirado o monstro da garrafa, agora que já não se pode mais prender ilegalmente, torturar e matar as pessoas, pelo menos por motivos de natureza política.

Menos de dez dias depois da minha entrevista com Quito o cemitério clandestino da Barra do Jucu foi descoberto. Os diversos esquadrões da morte passaram a ser notícia e isso de certa forma conteve a matança ao mesmo tempo em que os assassinos das polícias foram processados e presos. Passaram-se muitos anos até que agora a extrema direita se sentiu confortável para voltar a matar. A justificativa é sempre a de uma troca de tiros, de um confronto armado entre mocinhos e bandidos, claro que sempre com a vitória dos mocinhos e a morte de muita gente que não é bandida.

É hora de uma reação. Quem comete crimes ligados sobretudo ao tráfico de drogas tem que ser preso, processado e condenado. Mas aqueles que usam de uniformes e distintivos para matar por vingança, não importando se do outro lado há inocentes, têm que ter o mesmo destino. Não podemos conviver com a volta dos esquadrões da morte. Já chegam as milícias. Nas últimas chacinas como a do Guarujá (foto), litoral de São Paulo, várias câmaras de uniformes de PMs "falharam" nas filmagens.

Uma sociedade que não sabe a diferença entre o mocinho e o bandido está condenada à barbárie.           

Um comentário:

Anônimo disse...

Desta vez… fico em dúvida se concordo plenamente com você.
Pesa para um julgamento as seguintes situações:
- bandidos bem armados matam sem dó nem piedade nos confrontos entre gangues;
- policial mal pago, doentes e com menor potencial ofensivo;
- escolas, no centro de Vitória, solicitando presença da polícia para liberar alunos temerosos com tiroteio na guerra do tráfico!
Paro por aí, em respeito ao seu texto e a sua opinião.