15 de agosto de 2023

Novos ovos de serpente


Faz exatos cem anos que a Alemanha enfrentou a maior hiperinflação de sua história. Foi uma época tão dramática que quando alguém botava as mãos em dinheiro ganho tinha que correr para uma loja e comprar logo tudo o que era preciso e possível. Se demorasse em entrar nas filas os preços poderiam até dobrar (foto). Eram os tempos da República de Weimar, nascida em 1919, após o término da Iª Guerra Mundial quando uma constituição de caráter social e parlamentar foi criada para a transição alemã pós monárquica. A constituição representava um avanço. Tinha preocupações sociais relacionadas ao trabalho, à educação e ao conforto do povo alemão que se preparava para uma democracia representativa. O que deu errado?

Quando a guerra terminou os países vencedores impuseram à Alemanha uma rendição em termos tão draconianos relacionados a indenizações que era impossível pagar. Veio a penúria financeira e o valor do dinheiro deixou de existir. Esse era o caldo de cultura ideal para o surgimento no horizonte alemão de um demagogo capaz de seduzir as massas. Ele chegou na figura de um austríaco, outrora cabo do Exército usando bigodinho ridículo e discursando com muito o ódio e preconceitos raciais. Chamava-se Adolf Hitler. Acabou com a República de Weimar e a democracia em 1933.

Coisa parecida está acontecendo com a Argentina onde domingo foi entronizado um vencedor das prévias presidenciais que em muito e assemelha a esse tipo de gente. Quer acabar com o Banco Central, com o peso, ministérios, quer poder vender órgãos, enfim, fazer uma política de terra arrasada. Não nasceu de espólios de guerra, nem nada parecido com isso. Veio da penúria provocada por políticos incompetentes, corruptos e que levaram os argentinos e enfrentar uma crise econômica sem precedentes. Sem acreditar em mais nada, elegeram o nada.

O problema é que esse tipo de doença pega. Em menor nível consegue ameaçar os Estados Unidos com a figura de Donald Trump, já desembarcou na Hungria, na Itália e anda cercando outros países como a Espanha e, talvez, Portugal. Trata-se de uma pandemia de desesperança que leva povos pouco crentes nas artes da política a acreditaram naqueles que dizem ser contra ela mesmo embarcando nas caravelas dos partidos políticos e das eleições constitucionais para poderem arrotar valentia.

O Brasil tem que tomar cuidado. Um fracasso do governo federal de agora pode nos levar a surfar nessas ondas nefastas. Lutar pelo sucesso - ou ao menos pelo não fracasso - desse governo é apostar em nós mesmos. E nosso futuro. Temos que acreditar que nossas ações não nos levarão a abrir as portas de uma democracia conquistada com tantos esforços ao longo de 21 anos à aventura louca, irresponsável de ver mais um psicopata no poder da República. Já chocamos ovos de serpente em passado não muito remoto de nossa história. Chega disso. Todos atentos, então.              

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