28 de setembro de 2010

Meu Congresso pocotó (2)


No texto que coloquei no ar ontem, ficou para ser esmiuçada uma das constatações da pesquisa Época/Ibope, na qual ela revela o que alguns brasileiros já sabiam: parte de nós julga ser atribuição parlamentar realizar obras - seja lá o que isso signifique -em municípios, estados ou União.
Uma das muletas onde esse conceito se sustenta é uma das excrescências do sistema político brasileiro: as verbas para emendas individuais. Os vereadores, deputados (estaduais ou federais), bem como senadores, podem usar parte do dinheiro arrecadado pelo Estado para utilizar como bem entenderem. Podem fazer obras de utilidade pública, sim. E alguns o fazem. Mas também podem calçar a rua onde moram, alargar a estrada que leva à fazenda daquele que sustenta suas campanhas, construir uma quadra de bocha na região onde mora e, além de mais uma infinidade de coisas absurdas, dar dinheiro para a congregação religiosa onde construiu seu curral eleitoral.
Esse ponto eu destaco, por ser uma das maiores aberrações de nosso sistema político. O Brasil é Estado laico. Isso significa dizer que dá liberdade religiosa a todos mas não reconhece religião alguma como sua. Como oficial. Mas temos "bancada evangélica" em praticamente todos os níveis. Desde os municípios, passando pelos estados e pela União. Essas bancadas se unem, sustentam igrejas ou seitas, são sustentadas por elas e têm até mesmo programa político de conquista do poder de Estado.
Todos os anos os parlamentares que representam essas congregações religiosas e têm lá seus currais eleitorais, pegam substancial parcela da verba parlamentar de emendas individuais e mandam para elas. Quando não mandam tudo. Geralmente para ONG's de fachada que representam as congregações (igrejas ou seitas) sob algum tipo de falso manto assistencial.
Essa prática mantém o curral eleitoral, sustenta-o e eterniza a renovação dos mandatos. Em grande parte dos casos, os parlamentares dessas bancadas penetram mais fundo na estrutura de poder, corrompendo-se a corrompendo os gestores públicos. O escândalo do Mensalão, para citarmos um só exemplo, tinha um forte componente de participação desse tipo de político.
Repito: o Estado é laico. Dinheiro público foi feito para ser usado pelo Poder Executivo para suprir as necessidades da população nas mais diversas áreas e não para saciar a fome de votos de falsos profetas de algumas seitas religiosas. Meu dinheiro de imposto, por exemplo, ganho com muito suor, não poderia servir a essa causa malandra e injusta.
Se é intenção do Poder Judiciário, pois a campanha nacional do TSE assim o prega, combater a compra de votos, então atenção para as bancadas evangélicas. Elas compram votos e renovam mandatos dessa forma. E isso não é reza, não. É crime mesmo!

Só a título de esclarecimento, eis as diversas definições de laico segundo o dicionário Houaiss: "que ou aquele que não pertence ao clero ou a uma ordem religiosa; leigo - que ou aquele que é hostil à influência, ao controle da Igreja e do clero sobre a vida intelectual e moral, sobre as instituições e os serviços públicos (grifo meu) - que é independente em face do clero e da Igreja, e, em setindo mais amplo, de toda confissão religiosa - relativo ao mundo profano ou à vida civil".

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