14 de setembro de 2010

Na sala contígua


Ironicamente, coube a uma ex-ministra do governo Lula, Marina Silva, dizer a plenos pulmões, depois do estouro da crise envolvendo a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, que o escândalo está muito próximo ao presidente. Mais propriamente na sala contígua.
Aliás, como sempre esteve. E isso desde a época em que o ex-guerrilheiro José Dirceu trocou sua biografia de guerreiro pela de...vejamos...lobista. Não é isso o que ele diz ser? E desde que outros escândalos surgissem, como o do Mensalão, o mais tristemente célebre da relação completa. E em rigorosamente todas as ocasiões a informação dada pelo governo foi a mesma: Lula não sabia de nada. Desconhecia o que se passava na sala ao lado. Parede com parede.
Hoje, a retórica do presidente é a de ataque às legendas políticas que fazem oposição a ele. De uma deles desejou a extinção pura e simples. O que era bem mais fácil de ser conseguido durante a ditadura militar que ele disse combater e graças à qual ganhou dinheiro de indenização.
As crises SEMPRE estiveram perigosamente próximas ao presidente. Tão próximas e tão frequentes são que a gente às vezes se pergunta se é crível que ele não saiba de nada e seja surpreendido sempre. E que acredite em suas explicações, todas elas colocando a culpa nos políticos que se opõem a seu partido e forma de governar.
Diz-se nos meios políticos, e já faz muito tempo, que o presidente tem teflon, que nada cola nele. Talvez seja por isso que Marina Silva, sua ex-ministra, tenha sido a primeira a, publicamente, dizer o que todos sabemos: da sala contígua a gente conhece tudo o que se passa. Ouve as conversas, vê o movimento, nota olhares, sinais, visitas não programadas, saídas inesperadas e até mesmo odores. A corrupção às vezes tem cheiro. E ele não é nada bom!
E o presidente não tem porque ostentar o sorriso que sempre ostentou. Quem sabe, cinicamente. Com certeza, crendo no "efeito teflon". Essa mesma crença que o leva a atropelar as leis, a agir como se fosse dono do mundo e a falar pelos cotovelos, agredindo o bom senso e a língua de sua pátria, para depois pedir comedimento aos outros.
Aliás, e mesmo correndo o risco de ser chamado de preconceituoso - o que não sou - vou recordar aqui algo dito por um amigo certa feita. Ele estava zangado com determinado comportamento impróprio de certa pessoa, comportamento totalmente destoante do comum, do chamado normal, e sua avó disse: "A ignorância é atrevida, meu neto."

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