25 de agosto de 2015

Os arrivistas pixulecos

Uma pessoa há décadas de minhas relações de camaradagem, parou-me na rua. "Como pode você, um cara com passado no PCB, viver de tentativas de descriminalização do nosso governo de esquerda. Pode-se confessar: você hoje se passou para a extrema direita?".
Numa situação como essa a gente pode perder tempo para explicar. Mas eu não tenho mais paciência. Dei um aperto de mão protocolar no
velho companheiro, disse um "felicidades" e fui em frente sem dizer que o governo no qual ele acredita não é de esquerda. Nem é de centro. Tampouco é de direita. O governo que ele representa chefia, por patrocínio ou omissão, uma quadrilha que assalta o Brasil desde 2003 nos maiores escândalos de roubos institucionais de nossa história. E que eu, como um idealista crédulo, ajudei a eleger nas eleições de 2002. Para me arrepender pouco depois.
A renúncia de Michel Temer de fazer o varejo das interlocuções entre Governo Federal e Congresso, mostra o tamanho da esbórnia. O varejo é a parte miúda do "toma lá dá cá" entre Executivo e Legislativo. É a parte visível e barata da promiscuidade política. E feita às claras, todos os dias, com pedidos e reclamações inclusive nas falas oficiais do Congresso Nacional.
Um amigo advogado me disse um dia desses: "Álvaro, pare de chamar o governo de ladrão pois você pode acabar sendo processado". OK, trata-se de um governo de arrivistas pixulecos. Mas não é assim que eles se chamam; dizem-se pragmáticos. E pragmáticos perseguidos. Como o "primeiro ministro" do primeiro governo Lula, José Dirceu, que até hoje clama inocência e pergunta como o estão perseguindo dessa forma, logo a ele, um patriota que lutou contra a ditadura. Simples, prezado cara de pau: você se tornou um bandido depois que assumiu o Poder. Simples assim.
A saída de Temer do varejo é mais um ingrediente para a crise aumentar. Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados e hoje inimigo de Dilma Rousseff, quer o fim da aliança PT/PMDB. Quer derrubar o governo. Renan Calheiros, hoje aliado de última hora e segundas intenções, deseja "salvar a governabilidade". São farinha do mesmo saco.
E é por conviver com esse saco de farinha estragada que o governo se deteriora dia a dia. Hoje a presidente(a) Dilma Rousseff não tem mais condições de governar. Nem ela nem seu vice ou os que lhes são mais próximos. Suas saídas traria o Brasil para um pouco mais próximo de uma situação de paz de trincheiras capaz de permitir a reconstrução mais rápida.
É uma pena. Em 2002 eu me via diante de um operário metalúrgico lutador que, embora sendo politicamente ignorante e equivocado, parecia capaz de, bem assessorado, começar no Brasil uma reforma de justiça social. Bastou pouco tempo para entender que o deslumbrado com o poder tornara-se um parasita de palácios. Já seus assessores, muitos dos quais conheci por jornal, rádio, TV ou palanque - vejam que ironia do destino, era o palanque onde estava José Dirceu - revelaram-se o que eram e escondiam: canalhas. Ávidos pelo poder e capazes de conquistá-lo a qualquer preço.
Mas ainda há tempo para mudar. E é hora de mudar!  

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