19 de junho de 2024

Jogar com a cabeça


Se eu mesmo coloco o laço da corda no pescoço, não posso reclamar se alguém abre o alçapão da forca depois disso.

O presidente da República ficou espantado com os R$ 646 bilhões de renúncia fiscal hoje no Brasil. São números consolidados e referentes a não recolhimentos tributários, de benefícios financeiros e creditícios. Isso foi mostrado pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, na reunião que teve também a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Susto? Talvez, mas Lula deve entender que uma parcela é dele. Os anteriores também fizeram renúncias, mas o atual presidente fica com parte da culpa pelo conjunto da obra. E esse dinheiro faz, sim, falta aos projetos de governo, sobretudo com saúde e educação.

Recentemente, desgostoso com uma Medida Provisória do governo, o chefão da CNA declarou que não quer conversa com o presidente. A ação de seu setor foi recorrer à Justiça e acionar sua gente no Congresso Nacional. Só para informar, dos 594 políticos que nos representam em Brasília atualmente, 273 são empresários e 160, fazendeiros. Eles vivem a época do orçamento secreto, do pagamento obrigatório de emendas parlamentares, da formação de blocos congressistas que estão acima dos partidos políticos, atualmente meras reuniões de letras. E isso numa época em que o governo não tem maioria no Parlamento e elegemos o pior deles em toda a nossa história. É tenebroso.

Sim, todos nós temos culpa. O voto é secreto, a esmagadora maioria da população não é formada pelo empresariado urbano ou rural e mesmo assim o Congresso é esse. Responsabilidade aqui da ignorância geral da nação, levada sempre a votar contra seus próprios interesses seduzida pelos canto das sereias. Os poderosos sabem se unir em torno da defesa de objetivos e não renunciam a eles. Além disso, jamais abrem mão de privilégios obtidos e o "agro", que vive à custa de dinheiro público, não se envergonha disso. Quer mais e mais. Sua publicidade diária que martela na cabeça do cidadão mostra isso.

O atual presidente representa uma parcela da sociedade que talvez seja a mais desunida de todas. Prova disso é o fato de haver no PT, seu partido, correntes antagônicas e que mostram esse antagonismo diariamente, até em reuniões ministeriais. Não entram em acordo nem ao menos para decidir sobre corte de despesas, hoje um imperativo. Então para que o presidente da CNA vai querer conversa? Pobres nunca foram preocupação sua porque o "agro" usa o meu, seu, nosso dinheiro principalmente para exportar. Nenhuma dessas pessoas se ruboriza com isso e todos sonham com a volta do ex-presidente genocida e inelegível ou então alguém que o represente. Aliados são sempre bem vindos!

Mas há saídas porque sempre houve. Para evitar novos sustos como o dessa reunião ministerial, Lula tem que agir somente depois de ouvir muita gente e refletir bastante para não ter que voltar atrás. Também para não falar bobagem. O presidente do Banco Central talvez seja a menor de suas preocupações atuais, a economia vai bem e os projetos estão avançando. Basta ao governo usar as mesmas armas dos adversários e não mais chegar perto do nó da corda. Vamos nos lembrar sempre de que o empresariado (rural e urbano) e o mercado têm aliados em todos os setores, haja vista que até o Banco Central os representa e não ao interesse público. É preciso jogar o jogo com a cabeça, como eles, usando a denúncia, a mobilização popular e até mesmo o direito a rede nacional de rádio e TV para chegar às pessoas. 

E sem tréguas. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma verdade!
Se eu mesmo coloco o laço da corda no pescoço, não posso reclamar se alguém abre o alçapão da forca depois disso.
Mas como resolver, evitar o desastre?
Meu voto é decisivo, sempre voto no menos pior…
Em a cúpula se entende mais!

Maria do Rosário Oliveira Blomqvista disse...

Muito boa análise! Parabéns