8 de setembro de 2024

Como si fuera...

Sílvio Almeida e Anielle Franco num evento no Planalto. Situação normal que ele interpretou mal. 

É incrível um intelectual brilhante como o ex-ministro Sílvio de Almeida, dono de trabalhos de grande relevância no terreno dos direitos humanos e igualdade racial se envolver como autor num escândalo da magnitude do que foi vivido em Brasília semana última. O estrago para ele é de tal dimensão que seria até uma questão de misericórdia o governo Lula deixá-lo em paz agora para lamber suas feridas e tentar ao menos manter o casamento. A ministra Anielle Franco poderia ter sido poupada de envolvimento no caso, já que foi vítima e, ao que parece, não a única. Assédio sexual como o praticado não pode ter perdão.

Mas esse escândalo não é único de Brasília, ao menos em gênero. Durante o governo de Fernando Collor de Mello a ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello e o da Justiça, Bernardo Cabral, tiveram um tórrido romance classificado pelo presidente da época como "nitroglicerina pura". Na festa de aniversário de 37 anos dela, os dois foram flagrados dançando, rostinhos colados e cantarolando "como se fuera esta noche. La última vez". E foi! Tiveram que se separar e ele até deixou o cargo para "preservar o casamento". Meses depois Zélia, prima do chefe do Executivo, fez o mesmo.

A diferença abissal entre os dois fatos é que no primeiro houve um romance real, consentido! No segundo, o de agora, um tresloucado ex-ministro achou que seria de bom tom colocar as mãos entre as pernas de mulheres sem o consentimento delas. Coisa maluca!

Quem poderia imaginar, antes de tal fato acontecer, que um professor, pesquisador e estudioso de tal envergadura se poria numa situação como essa, arrastando consigo ministra de área vizinha? Ninguém, creio. Nem outra vítima, a esposa do ministro e mãe de um filho de um ano. Sob todos os aspectos que se olhe, esse fato é extremamente lamentável. E difícil de ser explicado, embora o desmentido de Sílvio seja sua tentativa desesperada de sair do caso com danos controlados. Tentativa vã, creio.

Infelizmente isso aconteceu. Triste é vermos que, na calda de cometa desse drama, uma ex-ministra medíocre e que costuma ver Jesus no pé de goiaba tente tirar proveito da situação em beneficio próprio, rasteiro. Pobre Sílvio de Almeida, em que buraco você foi se meter! Talvez por burrice, talvez por não saber controlar seus impulsos, acabou entrando numa caverna escura "como di fuera esta noche. Lá última vez". E também foi, só que muito mais dolorosa. Será marca, cicatriz moral em sua vida pelo resto de seus dias depois de ter traumatizado mulheres que confiavam em você.       

3 comentários:

MT disse...

Uma prova viva de que, moralmente, direita e esquerda se igualam. ( Marcos Tavares)

Anônimo disse...

Existe qualificação para tal fato?
Vergonhoso?
Infeliz?
Lamentável?
Ou mudo isto é mais…?

Don Oleari disse...

Saudando, como sempre, o autor de bótimos textos...
Como tudo foi resolvido rapidim e rasterim, ainda fico meiqui cabrero diante da história, que, acho, nuntá contada por completo. Ou está mal contada.
Assédio sexual, claro, nem pensar. Mas, na Corte da Ilha da Fantasia, cheia de bandidos e bandidas, neste e noutros governos, pode-se esperar de tudo...O professor deu bobera, claro...e, com isso, perde-se um dos caras mais competentes em um governo coalhado de medíocres e alguns corruptos profissionais...Don Oleari - donoleari.com.br