21 de janeiro de 2008

Igrejas S/A


Quem passou os últimos dias lendo os principais jornais brasileiros, decerto imaginará não estar mais vivendo num país laico. Segundo os jornais, mas também rádios s TVs, os senhores vereadores, deputados (estaduais ou federais) e senadores distribuem generosamente as tais "verbas parlamentares" a que têm direito a diversas ordens religiosas, sobretudo e principalmente das chamadas correntes pentecostais ou neopentecostais, que se disseminam pelo país como cerveja em botequim. Ou mais um pouco do que isso...

O meu, o seu, o nosso dinheiro recolhido como imposto das mais diversas e injustas formas para custear obras de infra-estrutura, saneamento básico, investimentos em educação, transporte, segurança e outros meios de geração de trabalho e renda, termina nas contas bancárias (ou seria melhor dizer "nos bolsos") de responsáveis por instituições religiosas que, na maioria das vezes, nem ao menos conhecemos. Muitas dessas "igrejas" criam entidades paralelas para receber o meu, o seu, o nosso dinheiro, travestidas como instituições de apoio. Algumas dão remédios. Outra mantêm escolas. Ou oficinas de trabalho. Ou... Ou... Ou...

A grande maioria conhece o poder da televisão. Basta ligar alguns canais brasileiros, de sinal aberto ou fechado, principalmente nas madrugadas, e a gente entra em contato com "milagres" os mais variados. O principal deles é aquele que faz o dinheiro desaparecer do bolso do crente para reaparecer na conta bancária do apóstolo. E eles, os milagres, têm seu preço, cobrado da forma mais descarada possível, ao vivo, no ar, via satélite para todos os que estiverem sintonizados nos canais acima referidos.

A gente já ouviu falar da Igreja Renascer em Cristo, não é? Ela é "neopicaretocostal". Como muitas das demais. Mas nem por isso perde a capacidade de amealhar dinheiro público e, vez ou outra, embarcar com ele para os Estados Unidos.

É preciso, com urgência, que seja proposta lei capaz de impedir os políticos de pagarem dívidas às igrejas com nosso dinheiro. Sim, porque um deles confessou ao jornal O Globo, de domingo último, ter destinado "x" mil reais à "Igreja Tabernáculo Sei Lá de Que" como pagamento pelo apoio recebido quando de sua campanha política.

Somos um nação laica, senhores. Com imensa maioria de pessoas religiosas, claro, mas ainda assim laica. E o dinheiro dos impostos não pode ser distribuído a esta ou aquela corrente sem que o cidadão que os paga seja consultado e diga que aceita. E como essa consulta não é possível, a distribuição, embora legal, é eticamente condenável e imoral.

Como diria Millor Fernandes, nos tempos da ditadura: "Liberdade, liberdade; quantos 'apóstolos' se cometem em seu nome..."

Um comentário:

Anônimo disse...

Alvaro, isso eh mesmo uma vergonha.

Lembro que no Chile, quando eu morava la, tinha um programa do tipo fala que eu te escuto de uma dessas igreja. E o tal pastor falava com um sotaque que nao preciso nem dizer de onde ele era ne ? Ridiculo. Isso era assunto certo de piadinhas nos churrascos e motivo de vergonha nacional.

beijos e uma otima semana para voce !