Há 50 anos não havia internet, Whatsapp, nada do gênero. E no dia 11 de setembro de 1973, a exatos 50 anos acompanhamos os fatos relacionados ao assassinato do presidente chileno Salvador Allende pelas agências de notícias ou TVs. No mesmo dia, referindo-se ao episódio, a Polícia Federal entregou nas redações de todos os meios de Comunicação do Brasil a mensagem seguinte: "De ordem do sr. Ministro da Justiça fica proibida divulgação de criticas, por todos os meios, à Revolução naquele país".
Allende não aceitou se render. Desculpou-se com o presidente cubano Fidel Castro, que disponibilizaria um avião para levá-lo a Havana, e também não usou aeronave da Força Aérea Chilena para fugir com o rabo entre as pernas para os Estados Unidos na véspera do golpe de Estado como fazem os canalhas. Reunindo a seu lado os membro do GAP (Grupo de Amigos Personales) que aceitaram ficar com ele até o fim, se entrincheirou no Palácio de La Moneda onde enfrentou os fascistas até ser morto. Augusto Pinochet, o golpista, tomou o poder. A foto acima, com Allende no centro e de autor desconhecido, documenta o fato.
Na única vez em que estive em Santiago, depositei uma rosa vermelha na sepultura de Allende. Se algum fascista pensa fazer o mesmo com Pinochet, esqueça. Sua carcaça foi queimada e as cinzas jogadas num lugar desconhecido. Quando estava parado diante da cova do grande presidente socialista chileno, uma senhora idosa que acompanhava a cena ao longe dirigiu-me um sorriso terno, mas sem se aproximar. Ainda não era muito seguro.
Durante todo o dia 11 de setembro acompanhei o noticiário da morte de Allende pela agência France Press. O jornal A Gazeta também assinava a UPI, mas dela eu me mantive distante. Lembrei-me da guerra do Vietnã e do fato de que sempre morriam mais vietcongs nos noticiários daquela agência. No dia seguinte os informes dos jornais brasileiros diziam que a deposição do comunista Allende no Chile havia "devolvido a democracia àquele país".
Estranho, porque ele era o presidente constitucionalmente eleito e havia governado respeitando a Constituição do Chile. Mas o governo da ditadura brasileira e que havia sido cúmplice dos Estados Unidos no golpe de Estado haveria de premiar todos os seus aliados incondicionais. No caso da imprensa, com publicidade oficial. A Gazeta, por exemplo, que na época se situava na Rua General Osório, no Centro de Vitória, construiria a nova sede da Rua Chafic Murad, em Bento Ferreira, graças a isso.
Caso o leitor queira conhecer mais sobre esses fatos. basta consultar o livro "Os dois últimos anos de Salvador Allende", de Nathaniel Davis (site "Estante Virtual" tem). O autor era o embaixador dos Estados Unidos no Chile, destruiu a carreira mas contou tudo. Sem omitir nada. Um diplomata incorruptível trabalhando junto ao governo do presidente valente deposto era um risco que os EUA não deveriam correr, mas correram. O resultado foi toda a historia ser revelada. Trata-se, até hoje, de um documento valioso.
Salvador Allende, presente!
Um comentário:
Registro histórico importante caro amigo, para que as novas gerações conheçam as barbaridades que ocorreram durante as várias ditaduras que ocorreram na AL, em especial no Brasil com o apoio dos Yankees.. Valeu!
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