11 de setembro de 2023

Salvador Allende, presente!


Há 50 anos não havia internet, Whatsapp, nada do gênero. E no dia 11 de setembro de 1973, a exatos 50 anos acompanhamos os fatos relacionados ao assassinato do presidente chileno Salvador Allende pelas agências de notícias ou TVs. No mesmo dia, referindo-se ao episódio, a Polícia Federal entregou nas redações de todos os meios de Comunicação do Brasil a mensagem seguinte: "De ordem do sr. Ministro da Justiça fica proibida divulgação de criticas, por todos os meios, à Revolução naquele país".

Allende não aceitou se render. Desculpou-se com o presidente cubano Fidel Castro, que disponibilizaria um avião para levá-lo a Havana, e também não usou aeronave da Força Aérea Chilena para fugir com o rabo entre as pernas para os Estados Unidos na véspera do golpe de Estado como fazem os canalhas. Reunindo a seu lado os membro do GAP (Grupo de Amigos Personales) que aceitaram ficar com ele até o fim, se entrincheirou no Palácio de La Moneda onde enfrentou os fascistas até ser morto. Augusto Pinochet, o golpista, tomou o poder. A foto acima, com Allende no centro e de autor desconhecido, documenta o fato. 

Na única vez em que estive em Santiago, depositei uma rosa vermelha na sepultura de Allende. Se algum fascista pensa fazer o mesmo com Pinochet, esqueça. Sua carcaça foi queimada e as cinzas jogadas num lugar desconhecido. Quando estava parado diante da cova do grande presidente socialista chileno, uma senhora idosa que acompanhava a cena ao longe dirigiu-me um sorriso terno, mas sem se aproximar. Ainda não era muito seguro.

Durante todo o dia 11 de setembro acompanhei o noticiário da morte de Allende pela agência France Press. O jornal A Gazeta também assinava a UPI, mas dela eu me mantive distante. Lembrei-me da guerra do Vietnã e do fato de que sempre morriam mais vietcongs nos noticiários daquela agência. No dia seguinte os informes dos jornais brasileiros diziam que a deposição do comunista Allende no Chile havia "devolvido a democracia àquele país".

Estranho, porque ele era o presidente constitucionalmente eleito e havia governado respeitando a Constituição do Chile. Mas o governo da ditadura brasileira e que havia sido cúmplice dos Estados Unidos no golpe de Estado haveria de premiar todos os seus aliados incondicionais. No caso da imprensa, com publicidade oficial. A Gazeta, por exemplo, que na época se situava na Rua General Osório, no Centro de Vitória, construiria a nova sede da Rua Chafic Murad, em Bento Ferreira, graças a isso.

Caso o leitor queira conhecer mais sobre esses fatos. basta consultar o livro "Os dois últimos anos de Salvador Allende", de Nathaniel Davis (site "Estante Virtual" tem). O autor era o embaixador dos Estados Unidos no Chile, destruiu a carreira mas contou tudo. Sem omitir nada. Um diplomata incorruptível trabalhando junto ao governo do presidente valente deposto era um risco que os EUA não deveriam correr, mas correram. O resultado foi toda a historia ser revelada. Trata-se, até hoje, de um documento valioso.

Salvador Allende, presente!     

Um comentário:

Vitor Buaiz disse...

Registro histórico importante caro amigo, para que as novas gerações conheçam as barbaridades que ocorreram durante as várias ditaduras que ocorreram na AL, em especial no Brasil com o apoio dos Yankees.. Valeu!