- Eu rezei tanto para esse homem não morrer durante meu governo...
Com esse lamento o "presidente" Ernesto Geisel, um dos membros da ditadura militar 1964/85 reagiu à notícia de que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira havia morrido num acidente automobilístico na Via Dutra, em Resende, quando se deslocava de São Paulo para o Rio de Janeiro. Foi à noite, bem tarde, e provocou um pandemônio nos meios de Comunicação. Um amigo que era repórter de "Veja" recebeu telefonema de convocação: "Para a redação, agora!". A revista tinha acabado de ser impressa, ia começar a ser distribuída a estava "velha". Era preciso fazer outra a toque de caixa para atualizar o material, pois quem havia morrido era o homem responsável pela construção de Brasília, nossa Capital Federal. Não era pouca coisa, claro, mesmo durante uma ditadura militar um monumento ia embora.
Cerca de um ano antes, recordo-me de ter ido a um teatro de São Paulo ver show de José de Vasconcelos. Um humorista que não falava palavrão e nos seus espetáculos era comum ver famílias inteiras. Em dado momento ele se virou para a platéia e disse que seu sonho era fazer uma apresentação na nossa Capital. Completou: "Quero me apresentar em Brasilândia!" Diante do silêncio das pessoas e da interrupção de uma senhora que disse "Brasília", o humorista esclareceu: "É que até lá Juscelino voltou. E voltando ele faz outra!"
Assim era naqueles tempos... No dia 22 de agosto de 1976, há exatos 49 anos, morria o "pé de valsa" Juscelino, médico da Polícia Militar, mineiro de Diamantina e sobretudo político com mandato de deputado federal, senador, governador de seu Estado Natal e presidente da República de 1956 a 1961. Enfrentou tempos difíceis, uma revolta comandada por militares que queriam dar golpe de Estado e conseguiu desmantelar a aquartelada de Aragarças, também conhecida como "Revoltoso do Veloso" e que sobreviveu de 02 a 04 de dezembro de 1959. Então cometeu um erro crasso: anistiou parte dos amotinados em fevereiro de 1956. Ele já havia sobrevivido a uma tentativa de ameaça ao Estado Democrático e de Direito em 1955 e foi convencido a anistiar os militares de 1959 como uma atitude "conciliatória". Fez isso e muitos dos que foram salvos de Araguarças estavam presentes cinco anos depois no Golpe de 1964 contra João Goulart...
Não se anistia golpistas!
A preocupação de Geisel era justificada. Sem poder impedir que o corpo de Juscelino fosse sepultado no cemitério Campo da Esperança, em Brasília, foi obrigado a ver a multidão de brasileiros que se acotovelaram em torno do local onde estava o corpo, na missa da Catedral de Brasilia (primeira foto) e depois na ida até o cemitério. Todos cantavam a música preferida do ex-presidente: "Como pode um peixe vivo viver fora da água fria; como poderei viver, como poderei viver, sem a sua, sem a sua, sem a sua companhia".Tempos depois, mais uma vez os milicos da ditadura tiveram crises de chilique quando foi inaugurado o Memorial JK, onde estão hoje os restos mortais do ex-presidente (foto logo acima). Os governantes viam na obra de Oscar Niemeyer uma foice e um martelo... E, pior do que isso, o sacana que criou a Capital mais bonita que existe no mundo ainda ergueu aquele memorial de modo a que os militares o vissem no Eixo Monumental...
Mas Juscelino nunca foi de esquerda. Nem de direita. Político de centro, era um conciliador que adorava ficar nos braços do povo. Populista na forma não demagogica do termo, fez de sua vida uma obra perene. Deixou um legado. E, ao mesmo tempo, esse alerta: não se anistia golpistas. Ele diria isso hoje, se vivo estivesse. Mas iria preferir cantar "Peixe Vivo".
02 de setembro vem aí!
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