10 de março de 2016

O ovo da jararaca

Promiscuidade.
Eis o termo correto para classificar como se processam as relações entre os poderes Executivo e Legislativo desde talvez os tempos de Império. E também porque Luís Inácio Lula da Silva foi o único dentre todos os presidentes brasileiros a elevar essa falta de pudor, de ética, de moral e honestidade em política de governo e de Estado. Ele, muito mais do que todos os demais, não separa em nada o público do privado. Ao contrário, faz do público um privado seu, particular.
Em 2010 mesmo várias emissoras de TV, jornais e internet mostraram o desfilar de veículos de mudança tirando dos palácios do Planalto, Alvorada e da Granja do Torno a mudança da família Lula da Silva. Na época cheguei a me perguntar se aquela mudança não envolveria itens inúmeros que não pertenceriam à família do ex-presidente, mesmo se a gente se lembrar que ele foi sempre muito presenteado enquanto esteve no poder e usou sua aura de quase santidade.
Escrevi algumas cartas de sugestão de pauta para grandes meios de Comunicação dizendo que aquilo deveria ser investigado, mas fui solenemente ignorado. Quem teria coragem para atacar Lula com 87 por cento de aprovação popular ao fim do segundo mandato? A mudança saiu...e sumiu.
No Brasil os agentes públicos sempre tiveram vocação para se apropriar ou aproveitar de bens públicos. Grandes empresas dependiam e dependem de verbas públicas. Como as de Comunicação, por exemplo. O império da Globo foi construído à custa do apoio incondicional à ditadura militar. A Rede Gazeta saiu de um jornaleco para se tornar o que é da mesma forma. E ainda hoje empresas de Comunicação usam de pressão para obter publicidade oficial. Em troca de alguns silêncios.
Quando Lula assumiu a presidência ele já conhecia todo o jogo. O esquema. Havia estado no Congresso. Havia se relacionado com políticos e empresários de diversos tipos. Havia testemunhado acordos espúrios os mais variados em diversas ocasiões. Já no Palácio do Planalto, resolveu que não apenas o PT tinha um programa de poder (e não de governo) como também que todos os frutos diretos ou indiretos de sua administração seriam dele. Seriam "privatizados".
Por isso vieram o mensalão e o petrolão que são no fundo a mesma coisa. Lula não teve escrúpulos para mandar comprar, no Congresso, todos aqueles que poderiam ser cooptados por dinheiro para concretizar a política de poder do PT. O Congresso, é claro, fez o mesmo em sentido inverso.
E como era necessário perpetuar os governos petistas, tudo o que podia ser controlado na esfera pública o foi. Daí as mais de 150 mil nomeações que começaram em 2003 e crescem até hoje, o que torna impossível sanear as contas públicas. Ao menos impossível a esse governo.
O que vai acontecer daqui para a frente? Difícil imaginar. Mas Lula continuará a ser o mesmo. Quando ele ocupou a presidência, o ovo da serpente já estava pronto para eclodir. Ocupou-se dele. Portanto, se intitular jararaca não é surpresa. É isso mesmo o que ele julga ser.            

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