25 de março de 2024

Faz 60 anos... (2)


No 1º de abril de 1964 minha mãe, que morava em São Paulo juntamente com todo o restante da família, ligou para Vitória na hora do almoço, o que não era fácil. Queria saber de mim e conversei com ela rapidamente. Tive que ouvir o relato sobre um tal de "movimento democrático militar" que estava assumindo o poder no Brasil em lugar do "outro". Pediu-me para ficar em casa. Então almocei juntamente com meus avós - eram pais de mamãe - e fomos ver televisão. Nos velhos tubos de imagem que nos traziam o preto e branco cheio de chuviscos e sombras tomamos conhecimentos da deposição do presidente João Goulart no linguajar de justificativas que os militares já estavam controlando.

Ainda não se tinha a exata noção do que estava acontecendo, mas de boca em boca já se ouvia que o presidente não se encontrava mais em Brasília (estava a caminho do Rio Grande do Sul) e que logo um presidente interino (Paschoal Ranieri Mazzilli) assumiria a presidência (por 13 dias, até a posse de Humberto de Alencar Castelo Branco). Tudo era confuso, principalmente numa Vitória provinciana de meados da década de 1960. Meus velhos logo foram dormir a sesta de todos os dias e recomendaram a mim não sair de casa naquele dia. Saí tão logo eles dormiram.

Subi a rua Francisco Araújo passando ao lado do prédio da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e saí na lateral do Palácio, a que dá para a Praça João Clímaco e ao lado da casa da família Barbosa Leão, hoje pertencente à Academia Espírito-santense de Letras e chamada de Casa Kosciuszko Barbosa Leão. Aparentemente estava tudo calmo, apenas com uma quantidade de soldados bem maior que o normal para a segurança da sede do governo estadual.

O governador Francisco Lacerda de Aguiar, o Chiquinho, não estava na rua. Consta que em seu gabinete palaciano. Poucos dias antes ele havia dado entrevista e dito que ficaria ao lado do presidente João Goulart para o que acontecesse. O que desse e viesse... Mas já eram dias perigosos! Segundo o anedotário de então, naquela manhã do golpe militar o comandante do 38º BI telefonou para ele. A conversa teria sido rápida: "Governador, fui incumbido de perguntar ao senhor de que lado está?". Ele respondeu de pronto: "Estou ao lado da Escola Normal!". A velha Escola Normal Dom Pedro II, de tanta saudade para mim...

Sentado em um dos bancos da praça, olhei para o prédio da Assembleia Legislativa ao lado e decidi andar em direção à Praça Oito de Setembro, descendo pela Escadaria Bárbara Lindenberg e dobrando à esquerda. Gostava muito de andar na região da Praça Oito (foto) para onde ia, dentre outras coisas sempre que precisava postar uma carta. Lá ao lado, na Avenida Jerônimo Monteiro, ficava a principal agência dos Correios.

Sim, era época de cartas...     

3 comentários:

Anônimo disse...

Kkk… desculpe, mas este Chiquinho era hilário!
Seu depoimento está perfeito! Excelente registro.

Don Oleari disse...

Quem sabe, sabe...
quem não sabe, bate palmas...
Vou "copigarfar" e publicar no donoleari.com.br = don oleari portal de notícias...
Pode ser?

Don Oleari disse...

Quem sabe, sabe...
quem não sabe, bate palmas...
Vou "copigarfar" e publicar no donoleari.com.br = don oleari portal de notícias...
Pode ser?