25 de março de 2024

Faz 60 anos...(1)


Parecia um dia comum e todos estávamos em aulas naquela quarta-feira, até sermos chamados para ouvir o diretor do Colégio Americano de Vitória no auditório. Iam turmas grandes, uma a uma. O professor Alberto Stange Júnior, ar preocupado, disse rapidamente que o País estava vivendo um momento grave, de muita conturbação e, por precaução, as aulas daquele 1º de abril seriam suspensas. "Saiam agora da escola e todos para casa. Não fiquem nas ruas. Quem quiser pode usar o telefone e chamar os pais para virem buscar. Já há muitos parentes de automóvel por aqui. Vamos torcer para tudo dar certo".

Saí. Morava na casa dos meus avós quase ao lado do Palácio Anchieta, bem perto do Americano. Tudo no Centro de Vitória. Eles não tinham carro e eu sabia que voltaria a pé mesmo. Preferi passar pelo Parque Moscoso e vi que ele estava quase deserto naquele meio de semana. Uma falsa calma. Um veículo militar passou devagar e havia soldados armados olhando para os lados, como que procurando por alguma coisa "errada". Ao longo das horas eu veria muitos outros mais. Andei devagar e parei num ponto muito frequentado naquela época: o Bar Dominó. Estava com fome e naquele horário costumava lanchar na escola.

Hoje não me recordo mais o que pedi. Deve ter sido uma Coca-Cola e um misto quente. Sentei-me a uma das mesas do lado de fora, na calçada, e notei que os garçons estavam começando a fechar o bar. Um deles me fez sinal para comer logo o lanche e ir embora. Fiz isso. O que estaria acontecendo? É preciso entender que naquela época não havia celular, internet, nada disso. Os telefones eram pretos, de discar e ligações interurbanas tinham que ser feitas com a ajuda das telefonistas. Comecei a andar o trecho final.

Na lateral do Centro de Saúde, passei por um homem de meia idade, passo apressado, aparentemente indo para casa. "Ande logo, menino", disse ele. Eu apressei o passo e cruzei com um carro da Polícia Civil que também rodava bem devagar. Logo após a rua General Osório, subi a escadaria Doutor Carlos Messina (foto) e cheguei à Francisco Araújo, "rua de vovó". Ela estava na varanda, corpo debruçado para fora e me viu. Imediatamente fez sinal para que eu entrasse. Tudo aquilo era muito estranho para mim.

Meu avô havia saído sei lá eu o motivo e chegou em seguida dizendo que a cidade estava cheia de veículos militares e policiais. De onde eu estava era possível ver a então Escola Normal D. Pedro II e parte de uma das laterais do Palácio. Aparentemente estava tudo OK. Afinal, era um 1º de abril de 1964 e alguém deveria estar passando trotes.

Só que não!       

Um comentário:

Anônimo disse...

Faz 60 anos… mas parece tão perto! Neste dia, quando acordei, havia um meu quintal esconderam um carro. Denunciei. A Polícia Dio e levou! Naquele tempo já havia corrupção!