8 de dezembro de 2015

"Verba volant, scripta manent"

O texto que faz título a esse artigo abre a carta do vice-presidente da República, Michel Temer, endereçada ontem à presidente Dilma Rousseff. É um texto em latim que, em tradução livre, quer dizer: "As palavras voam; os escritos permanecem". Temer queria que sua carta permanecesse e, não por outro motivo, a fez cair nas mãos de todos os jornalistas de Brasília. E do mundo...
Podia dar certo? Não entre o político de carreira e a gerentona 
Não pode existir rompimento mais claro, mais cristalino. De hoje em diante Dilma não poderá mais se referir a Temer como "meu vice-presidente". E nem Temer ao governo como "meu governo". E as consequências desse rompimento poderão significar muito para essa "criação" de Lula.
A gente planta, a gente colhe.
Dilma Rousseff ficou famosa, mesmo antes de ser presidente, pelas broncas desqualificantes que dava em seus subordinados. Algumas pessoas chegavam a chorar. Na presidência, continuou no mesmo tom, levantando a voz e esmurrando a mesa para muitos de seus ministros. Não era uma presidente; era uma gerentona daquelas bem sem educação. Sem classe.
Não recebia políticos. tratava-os com extrema rudeza, com desprezo, com desdém. E os políticos sentiam isso, dos mais pulhas aos honestos. Dilma, muito mais do que Lula, diferenciava "nós" e "eles". E mesmo "nós" éramos tratados à distância. Com muita distância.
É que Dilma não foi atriz política. Não iniciou a carreira pelas urnas nos cargos municipais ou estaduais. Ela foi guindada à presidência por um presidente que queria dela apenas a imagem de um rito de passagem, embora sem saber o que quer dizer isso. Lula queria, desde o dia em que deixou o Palácio do Planalto, voltar para lá em 2018. Continua querendo e vai tentar. Se não for preso até lá.
O impeachment de Dilma, que tem razões jurídicas claras, jamais teria sido pedido se a presidente jogasse o jogo político e tivesse trânsito no Congresso, sobretudo entre as reservas morais que há lá. Mas não, ela não fazia isso. Era muito superior para descer tantos degraus! E agora, Dilma?
Jogo jogado, cartas na mesa, ela terá que salvar o mandato dando aos mãos a quem despreza, cortejando os "inferiores", fazendo acordos com o baixo clero - mesmo para negar depois ter feito isso - e ainda aceitando toda a ajuda que Lula quiser dar a ela.
Para salvar o mandato, Dilma vai ter que descer do trono e sentar-lhe à mesa até com a ralé política. Vai implorar que essa a salve. E implorar sem ter a certeza de que será atendida.

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