Faz um bom tempo, muitos anos, sou membro da Academia Espírito-santense de Letras (AEL) e sempre admirei a entidade, além de me orgulhar de ser um dos seus 40 membros acadêmicos. Mas em época mais recente renunciei até ao cargo de primeiro secretário da entidade e depois comecei a me afastar de outras atribuições. Vejo a direção desse grêmio outrora literário como oportunista, aético, amoral e bem próximo da desonestidade institucional. Denunciei isso em duas oportunidades recentes, uma delas ao Conselho Estadual de Cultura (CEC) e a outra nesse mesmo Blogdoalvaro.blogspot.com. Estou sendo alvo de processo de censura e suspensão por parte da diretoria, que não aceita críticas e pretende fazer calar dessa forma a única voz que se insurge contra os fatos. Vamos a eles.Depois de várias anormalidades, recentemente terminei meu mandato como representante na Câmara de Literatura e Biblioteca do CEC, órgão da Secretaria Estadual de Cultura (SECULT). Tinha a intenção de continuar lá, mas aproveitando-se do fato de meu não comparecimento a uma assembleia da AEL, a presidente Ester Abreu Vieira de Oliveira, títere na direção da entidade, omitiu essa ocorrência e encaminhou a indicação de outras duas pessoas, ambas literatas mas sem tempo para exercer as funções. Uma continua mas a outra, a escritora Renata Bonfim, disse "não". Então Ester, primeiro primeiro via Academia Feminina Espírito-santense de Letras, o que foi negado e depois por intermédio do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, nomeou para a função pessoa sem qualquer qualificação literária. Jamais escreveu ou editou um único livro. É advogada "aposentada", no dizer dela mesma.
O que acontece? De uns anos para cá a AEL passou a eleger para a vacância dos acadêmicos falecidos gente sem a menor expressão literária, apenas por elas serem militantes da extrema direita política brasileira e ligadas aos que já estão lá. A AEL elegia, no passado, por mérito literário e sem se importar com o pensamento político da pessoa. Mas isso passou e, de uma hora para a outra, por influência direta da extrema direita presente na Academia, só candidatos desse espectro político passaram a ser eleitos.
As eleições sempre são feitas por chapa única e que são intituladas de "chapas de consenso". Na verdade, são "de conchavo". E acadêmicos que jamais aparecem para nada, nem para colaborar financeiramente com a entidade, se apresentam para votar. Já foi determinado em assembleia geral que tais pessoas não podem exercer esse direito, mas a presidente atropela a decisão da maioria e todos os que surgem votam sem problema. Um deles só conheci pessoalmente em dia de eleição, recentemente...
Como são feitas as chapas de conchavo? A presidente reúne o "petit comité" de acadêmicos em sua casa onde uma placa anuncia: "Solar da Ester". Lá é feita a composição única que passa pelo crivo de acadêmicos como Francisco Aurélio Ribeiro, o "presidente de honra" e outras cabeças coroadas da AEL, como o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), monarquista que tem feito da instituição no passado histórica um bastião do conservadorismo político de direita. Foi de lá que saiu o nome da minha sucessora no CEC, essa pessoa sem obra literária alguma, como já dito, mas fotógrafa de reuniões, eventos sociais, etc. Nada, absolutamente nada que tenha qualquer conotação de passado ou valor histórico.
Foi isso o que denunciei numa reunião do Conselho Estadual de Cultural, diante de todos os conselheiros. Denúncia feita às claras, em reunião oficial realizada por vídeo conferência, com ata e tudo o mais. Nada subterrâneo em solares, lupanares ou outros lugares secretos. Foi a reunião 177 do CEC e cujos registros públicos podem ser consultados por qualquer pessoa. Aliás, sobre isso a presidente Ester disse em uma de suas manifestações que eu estava inconformado por ter sido recusado. Ela mede os outros por sua régua.
O mundo então desabou sobre minha cabeça. O acadêmico, jornalista e advogado Jonas Rosa dos Reis, ungido antecipadamente como sucessor da atual presidente para o próximo conchavo, fez representação ou coisa parecida contra mim usando seus parcos conhecimentos jurídicos e para servir como anteparo aos interesses da presidente, dizendo que eu, com a denúncia no CEC, havia colocado em risco o recebimento de uma verba de R$ 1,8 milhão que a AEL pretende obter via emenda parlamentar para reformar o quase centenário prédio que ocupamos. Ele pedia que o "infiel" acadêmico, eu, "ainda membro da Academia", seja suspenso por seis meses por causa da denúncia e do artigo feito no blog. É preiso esclarecer que esse acadêmico foi meu colega de trabalho durante anos em A Gazeta, e o tinha como amigo pessoal. Inclusive cometi o erro, pobre de mim, de fazer dele autor de prefácio de livro meu. Representei contra ele junto ao Conselho de Ética do Sindijornalistas-ES.
Em seguida foi criada na AEL uma Comissão de Sindicância para me julgar (sic!) e apreciar o pedido de suspensão que, explico, NÃO É PREVISTO NOS ESTATUTOS. Ou seja, tudo é absolutamente ilegal como disse o advogado por mim contratado em defesa apresentada nesse "processo" de censura e perseguição pessoal. E em uma Academia de Letras, fiquemos todos pasmos...
Mas meu susto final viria quando me foram passados os documentos da tal sindicância. O acadêmico Rosa dos Reis retirou da denúncia a acusação feita por mim, com todas as provas, junto ao Conselho Estadual de Cultura. Ficou somente, no escrito final de acusação do Rosa o artigo do blog e no qual digo que a AEL hoje está tomada pela extrema direita política que busca invadir todos os setores da sociedade brasileira, não restando nem mesmo as entidades culturais de serem poupadas por essa gente sem cultura alguma. O que teria acontecido para a acusação principal desaparecer da sindicância? Por que ela foi omitida no documento final? Foi defenestrada por ordem de quem e em que ponto de seu trajeto?
É o fim da picada!
Para jogar com a cultura capixaba a AEL usa até mesmo a Biblioteca Pública Municipal Adeolpho Polli Monjardim, da Prefeitura de Vitória. A presidente Ester e o presidente de honra (sic!) Francisco Ribeiro, que preside a Comissão de Sindicância, manipulam a chefe desse setor, Elizete Cazer Rocha, usando as programações ditas culturais do órgão público para obter mais notoriedade e realizar aulas, dar palestras e serem destaque em outros eventos. São tantas as participações da dupla no que a biblioteca faz que, pergunto-me, como pode a PMV nunca ter desconfiado de nada se isso tudo está registrado? E nos estatutos a Academia deixa claro que as nossas relações com outras instituições devem ser marcadas pela "impessoalidade". A foto que abre esse texto, retirada da internet, é de uma solenidade de entrega de livros da AEL na biblioteca esta semana. A impessoalidade transpira por todos os poros...Ainda penso no que vou fazer doravante. Talvez abandone a Academia que tanto amo e a deixo nas mãos de quem não tem estatura. Talvez lute contra o que acontece, como venho fazendo nos últimos tempos. Preciso decidir. Mas resolvi denunciar todos esses fatos porque, entendo, uma instituição de 104 anos como a minha Academia Espírito-santense de Letras não pode continuar sendo desrespeitada como ocorre agora. O leitor pode perguntar o que teria acontecido na reunião de ontem. Não sabia ao fazer o texto. Não fui e não procurei ter conhecimento, mas fui informado por volta do final da manhã que o assunto foi arquivado pela diretoria. Seu único ato responsável nesse infeliz episódio.
E esse relato é só um resumo...